quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Pra onde foi o infinitivo?

Por mais que os lingüistas mais modernos queiram me explicar que o brasileiro é um povo de sotaque vocalizado, nada consegue me fazer entender o motivo de a letra “r” simplesmente desaparecer dos verbos que deveriam estar no infinitivo. Sei que nosso português brasileiro tem muita influência das línguas banto e ioruba, de origem africana, além das línguas ameríndias, faladas até hoje por muitos povos de origem indígena no nosso país. Essas línguas são línguas vocálicas, diferentes do inglês, por exemplo, onde predominam as consoantes. “Comê”, “rezá” e “amá” fazem sentido na minha cabeça se o falante está comprometido apenas com um pedido de pizza, de perdão de pecados ou, sei lá, de casamento. Eu consigo me conformar em ver o “r” desaparecer da língua falada. Mas eis que surge mais um desafio: entender por que cargas d’água resolveram abolir o infinitivo também da língua escrita! “Escrever” agora é “escreve”; “falar” agora é “fala”; “sentir” agora é “senti”. Ano após ano vejo que se tornam mais comuns frases do tipo “Quero fala com você, pode se? Que tal marca um dia pra gente se encontra?”. Será que nesse bendito encontro alguém, pelo amor de Deus, encontra também o infinitivo?

Já virei noites a fio desesperado, temeroso de ver minha Língua Portuguesa se transformar numa réplica da anglo-saxã. Lá, sim – nessa língua de gringo – o verbo pode ser “to be”. Mas aqui não tem a porcaria do “to”, pombas! Aqui, ou você me love ou não me love. Sem “to”. No Brasil, a graça não é “to kiss”, mas “beijar”, com um “r” bem rasgadinho no final. Ou alguém beija com “to” na frente? Não teria o menor suspense: todo mundo já saberia que viria um infinitivo no caminho. Aqui a gente sabe que beijo que é beijo acontece devagarzinho, devagarzinho, letra por letra, com direito a sentir lá na garganta o vibrar do “r” no final... b-e-i-j-a-a-a-a-a-a-a-a-r-r-r-r-r-r-r! Assim mesmo, gostoso e sem perder o ar! Particularmente eu achava o infinitivo um produto quase sexual. Era um mistério guardado a sete chaves e aberto no momento mais oportuno. O namorado, rapaz esperto, chega empolgado e propõe: “Amor, que tal a gente pegarrrr um cinema e depois esticarrrrr a noite em um lugar onde possamos esticarrrrr também as nossas... conversas?”. E então, de esticada em esticada, o infinitivo passaria de geração a geração, não fosse o fato de terem decidido abolir o meu recurso sexual favorito! As fugidinhas nunca mais tiveram tanta graça depois do sumiço do infinitivo...

Eu tenho esperança de que alguém um dia encontre novamente o infinitivo ou, pelo menos, descubra uma maneira mais interessante de comemorar um aniversário de namoro. As cantadas estão cada vez mais pobres, os xavecos andam para as cucuias, e as pessoas inventam maneiras cada vez mais esdrúxulas de expressarem desejos, sentidos, vontades. Enquanto uns apostam em um estilo tão inovador que chega a ser esquisito, violento ou absurdo, outros se apegam a um discurso mais que ultrapassado, piegas, clichê.

Na escola, como professor, vivo esse dilema. Está cada vez mais difícil ver alguém ser original para elaborar um discurso falado e, dez vezes mais, um discurso escrito. As tentativas vão dos tradicionais “a gente fomos” às construções mais, digamos, “autênticas”. E quando eu penso que se esgotaram as surpresas vindas dos meus alunos, eles dão a volta por cima e inventam uma maneira muito mais complicada de se expressar! Esses dias resolvi fazer uma sugestão a um ex-aluno que insistia em escrever “kue” em vez de, simplesmente, “que”. Ora, que mal faria trocar o diabo do “k” pela letra “q” que, ortograficamente, é a letra correta e mais apropriada à conjunção “que”? Expliquei que foneticamente o “k” não fazia sentido, porque a pronúncia do “u”, em “que”, não existe. Sugeri que, se o amor pelo “k” fosse tão grande que não pudesse abandoná-lo, que ele escrevesse “ke”. Pelo menos nas conversas virtuais ele seria inteligível. O rapaz, por acaso, se dispôs a rever seus caminhos e passou a escrever “que” com “q”. Mas outros continuam a me surpreender com suas peripécias escritas.

Comecei a observar essa resistência à escrita há alguns anos quando os primeiros sinais desse distúrbio apareceram: os pupilos vibravam com provas de múltipla escolha e repudiavam as dissertativas. E, por mais que eu insistisse, bimestre após bimestre, que as questões dissertativas eram mais fáceis, eles preferiam se deliciar com a ideia de que conseguiam responder uma questão inteira marcando um “x”, mesmo que fosse na alternativa errada. Se a prova tem um texto, e se o texto tem perguntas sobre ele, as respostas obrigatoriamente – segundo a concepção da maioria dos alunos – devem começar em um ponto ou em uma vírgula, e se estender linhas e linhas até o final do período, ainda que o texto reproduzido não tenha absolutamente nada a ver com a pergunta, à exceção de uma palavra qualquer que se assemelha com o enunciado da questão.

Por muito tempo eu pensei: não sei ensinar! Meus alunos não entendem minha matéria, ela é um lixo, não serve pra nada. Sou uma droga de professor porque não consigo fazer com que a droga do conteúdo saia da droga da Academia! Até que eu descobri que o problema não estava na minha disciplina, mas nas habilidades da Língua Portuguesa desses alunos. Ou haveria um consenso de que todos os colegas professores de português nada ensinavam, ou haveria uma outra explicação para que meus alunos não soubessem que – por exemplo – as questões dissertativas “a”, “b” e “c” deveriam ser respondidas nas linhas subseqüentes, e não com um “x” mágico sobre a letra que identifica a pergunta. E a explicação existe! Meus alunos não sabem ler! Isso mesmo, eles simplesmente não sabem.

Quando eu era pequeno, meu pai me presenteou com uma maleta de livros infantis. Durante anos eu me apeguei àqueles livros coloridos. Cheguei a decorar uma das histórias, a dos Três Porquinhos, que eu contava para meus primos e amigos. Em um momento da história eu dizia assim: “E o lobo morreu morto”, porque não havia reparado no ponto que existia entre a palavra “morreu” e a palavra “morto”. Sim, “e o lobo morreu. Morto, não poderia mais ameaçar os porquinhos”. No meio do caminho tinha um ponto; tinha um ponto no meio do caminho. Mas eu passava batido por ele. Todos riam da maneira como a história era contada, e sempre era muito divertido aprender com os livros. Um dia acabei entendendo que o lobo não morreu morto. Os livros... eles me traziam magia, criatividade, emoção. Traziam mais cores à vida. Os meus livros tinham infinitivo e traziam sentido à minha existência.

Se alguém souber onde foi parar o infinitivo, me avise. Eu tenho um palpite. Acho que ele se escondeu no mesmo lugar onde se esconderam os sonhos das crianças. A imaginação, a ludicidade e a alegria delas resumem-se a um aparelho de celular ou ao orkut. Experimentei perguntar a uma aluna completamente alheia às atividades da sala, o que ela queria ser daqui a cinco, seis anos, quando já estivesse trabalhando. E ela, sem perspectiva alguma, respondeu: “médica”. Respondeu a primeira profissão que lhe veio à cabeça. Não condeno o desejo da aluna em ser médica, mas, sinceramente, minha impressão foi que ela simplesmente desconhece qualquer outra profissão que esteja entre a medicina e o desemprego. Meus alunos não sabem ler! E isso me deixa triste. E o que me corrói não é o analfabetismo funcional em si, mas a razão dele. Não existe razão para ler! Não existe mais razão para aprender! E, ao que tudo indica, não existe razão em viver. Cada aula que passa é uma ofensa a mais. Cada dia que corre é mais um que morre. E vidas são perdidas. E sonhos são sepultados. E até que eles despertem novamente os sonhos; até que acreditem que esses sonhos podem se tornar realidade através da leitura; e enquanto a imaginação tiver de asas atadas pela inércia, pela não-ação, pelo conformismo, não haverá caminhos nem para aprenderem o conteúdo de qualquer disciplina, nem para devolverem o infinitivo à Língua Portuguesa.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Crônicas de um Pastor Gay - Lançamento!!!

Convido a todos os amigos que acompanham o blog Sai na Urina a comparecerem ao evento do lançamento do livro de meu querido amigo Rev. Márcio Retamero, nesta quinta-feira, 13/10, em Ipanema. "Crônicas de um Pastor Gay" é uma obra que tece todo um olhar inovador sobre a realidade brasileira no que se refere aos direitos e às lutas dos LGBT's no Brasil. Como testemunha ocular, o autor - homossexual assumido - discorre sobre o discurso religioso de cunho fundamentalista que tem se destacado na mídia e nas Casas de Leis do país, impedindo ou, quando não, criando muitos entraves para a conquista de direitos igualitários para todos. Márcio Retamero é historiador e pastor das igrejas Presbiteriana da Praia de Botafogo e Comunidade Betel (Igreja da Comunidade Metropolitana do Rio de Janeiro). Quem tiver interesse na obra, ela será lançada pela Metanoia Editora.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Maria, Maria... da Penha!

Hoje vi no Facebook uma mensagem divulgada pelo Grupo Arco-Íris, lembrando-nos sobre o quinto aniversário da Lei Maria da Penha. Eu mesmo, por minha conta, talvez não fosse lembrar da data. E existe uma razão pra isso! Não sou mulher. Não vivo na pele a dor e a delícia de ser o que é, a saber, mulher. Mas sofro em outras instâncias e sou atingido de outra maneiras que não vêm ao caso neste artigo. Porém, o mais importante a respeito da Lei Maria da Penha não é o fato de ela proteger mulheres, mas sim, o fato de ela proteger pessoas! O que quero dizer, é que, se por um lado a lei confere às mulheres o status de "pessoa", status este que, por força da cultura, era atribuído apenas aos homens, a mesma lei permite, por outro lado, a homens e mulheres desfrutarem da proteção da lei. Porque são pessoas, a despeito do gênero ao qual pertencem. Na minha leitura, é uma lei que prima pela igualdade. Alguns casos já foram noticiados na internet sobre homens que fizeram uso da lei. Homossexuais, inclusive! E há louvor na ação. Mas sem dúvida, as maiores beneficiárias da lei são as mulheres, sim! Na violência doméstica, são elas as que estão em situação de prejuízo. É lamentável, entretanto, que muitas não ousem usufruir do direito que possuem, apesar das imperfeições que a lei em si traz em seu texto.

Mas a questão que me intrigou quando eu vi o cartaz não foi propriamente a Lei Maria da Penha, antes o próprio cartaz me chamou atenção. E por quê? Tente você descobrir. Vá até a barra de rolagem e suba um pouco o seu olhar. Observe o cartaz... se possível, ligue as caixinhas de som do seu computador para que Milton Nascimento inspire a sua reflexão...



Pedi pra que você ouvisse porque o som às vezes inspira mais que a imagem, mas se você é daqueles ou daquelas que preferem o texto, ok. Preste atenção no excerto escolhido para a reflexão.

Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria


Por mais que reine no Grupo Arco-Íris a boa e generosa intenção de celebrar a data de aniversário de criação da Lei Maria da Penha, uma coisa é inegável! O cartaz não condiz com a proposta. As Marias que misturam a dor e a alegria não me parecem ser as Marias louras de olhos azuis com corpo de modelo. As Marias que trazem no corpo a marca, ao meu ver, trazem a marca da discriminação, da cor, do suor, as marcas de uma gente que ri quando deve chorar, porque motivos não faltam. No início do artigo eu fiz uma provocação. Dizia que a lei beneficia homens e mulheres - porque são ambos humanos - mas reforcei que as grandes beneficiárias são as mulheres, dadas as condições de desigualdade histórica em relação ao poder do falo na nossa cultura. Da mesma forma, é preciso se pensar questões internas, dentro do próprio gênero feminino. Se todas as mulheres são contempladas pela lei, certamente as pretas e pobres são aquelas que mais merecem atenção! As estatísticas mostram pra quem quiser ver: a pirâmide social do Brasil é sustentada pelas mulheres pretas e pobres. São elas quem estão na base! Recebem os menores salários, têm as piores condições de trabalho e, muito provavelmente, sofrem no ambiente privado aquilo que lhes é oferecido no público. Mesmo que a informação não procedesse, seria de bom tom que o Grupo Arco-Íris, por sua história e natureza, homenageasse as mulheres pretas e pobres! Não tenho nada contra as loirinhas de olhos azuis, assim como não tenho nada contra heterossexuais. Mas, cá pra nós, faz sentido aquele projeto ridículo de São Paulo celebrar o Dia do Orgulho Hétero? Não, não faz! Heterossexuais não estão lutando há décadas pelo direito de (sobre)viver. Da mesma forma, não faz sentido, na minha visão, comemorar o quinto aniversário da Lei Maria da Penha estampando em cartazes mulheres que não representam as Marias de Milton Nascimento. Vamos pro chão da vida? A Maria é da Penha, não do Leblon.

É só uma provocação. Fica a dica para a sua reflexão! E, pra não dizer que não falei de flores, que as marcas em vermelho sejam apenas de batom.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu, robô


Hoje lembrei que tinha um blog e que este servia para espiar o estresse, conforme proposta assentada em sua criação. Esqueci mesmo que possuía um veículo para espiar minhas angústias, anseios, indignações. Fazia tempo que não passava por aqui. Então resolvi escrever.

Os dias têm passado como se eu os estivesse assistindo e sem deles participasse. Não estou bem. Às vezes até me envergonho ao dizer que não estou bem, posto que existe um mundo imenso lá fora de repleto de pessoas famintas, miseráveis, sem teto, mendicantes, doentes, mortas. Mas não posso negar o vazio, não dá. Eu vejo os dias passarem e a sensação que eu tenho é a da imobilidade. Há mais de um mês estou em greve e, de alguma forma, os agitos da sala de aula estão me fazendo falta. Meus alunos são o demo! Gritam, são rebeldes, abusam da boa vontade do professor... mas são meus! E eu confesso que estou morrendo de saudades deles. Meu outro trabalho é administrativo e quase não vejo gente, à exceção das pessoas com quem trabalho todos os dias, as mesmas pessoas, sempre. Meu trabalho aqui é a ilustração do que significa rotina. Não é que seja chato ou difícil, a questão é que está fácil demais. Não possui os desafios da sala de aula, dos quais tenho sentido falta. Tenho sentido falta de ter o controle da situação, de escolher caminhos, de ser provocado e ter meios para driblar ou reagir à provocação. Aqui estou me sentindo amarrado pela facilidade, pela via fácil, pelo ofício simples. Cadê o Léo crítico, audacioso, sagaz? Estou cercado por gente bacana. Por muitos colegas legais. Bacanas e racistas. Legais e machistas. Isto tem me feito mal. Não, não se diferem da grande maioria da população. Tal como na sociedade lá fora, o racismo aqui é naturalizado. O machismo é quase um baluarte. Estou ficando sem forças para discutir, tenho andado desanimado, desacreditado da mudança. Hoje um colega criticou o SUS por oferecer cirurgia de mudança de sexo às transexuais, e sua crítica soou tão natural para todos os presentes... e eu não me perdoo até agora por não ter falado nada, absolutamente nada.

Elaboro documentos, digito atas, conserto erros, altero sites, leio e-mails, faço o que tenho que fazer, e sei que faço bem. Mas não estou bem! Estou cansado de cumprir ordens sem questionar! Não sou pau-mandado. Não quero me tornar um escravo do sistema perito em ser eficaz. Não! Onde está a poesia? Alguém viu o meu humor? Estou ficando sem combustível. Ontem fiquei pensando em quando poderia me dedicar ao teatro integralmente; sonhei com isso, e me entristeci ao acordar para a minha realidade mecânica. Estou com medo de me robotizar, de me tornar um servo do sistema, um produto automático que faz coisas automáticas para um mundo automático. Não suporto mais dar respostas mecânicas a processos burocráticos! As dúvidas simples demais de pessoas simples demais estão me irritando profundamente! Eu preciso de um mundo mais colorido, mais diverso e mais criativo! Definitivamente eu não combino com burocracia! As tintas para pintar meus quadros estão compradas há mais de um ano. Não me faltam ideias para as telas! Hoje vi fotografias de ondas com um colorido inimaginável, pensei que estampariam belíssimos quadros, mas apenas pensei. As ideias não se concretizam! Meu mestrado até agora não sai, e nem mesmo sei se teria tempo, nas atuais circunstâncias, de me dedicar aos estudos acadêmicos.

Estou às vésperas de ingressar em outro trabalho, um outro posto que exigirá de mim aquilo que me anima, que me traz vida: o ato de educar. Mas a dúvida me sobrecarrega. Olho para todos os lados e tudo que vejo em relação ao magistério são sombras. Sombras de descaso, de falta de investimento, de depredação, de deboche do poder público. Por outro lado, até hoje é no magistério onde encontro a maior possibilidade de lutar por aquilo que acredito, sem constrangimentos. Na sala de aula, eu sou o cara! Não estou me gabando, nem me achando o melhor professor do mundo, não. Mas lá, sim, eu posso. É como se lá eu realmente acreditasse que meu discurso vale à pena. Lá o desafio é mais excitante. Não existe comodismo, nem tarefa fácil. Cada dia é um novo dia, e se tem uma coisa que não consigo fazer lecionando é me automatizar.

Não sei se é essa a explicação pro vazio que estou sentindo essa semana. Mas sei que a explicação reside na automatização da vida. Enquanto isso, tentarei acalentar o coração. Chegar em casa e achar graça no café, no sofá, na cama. Ou quem sabe, trazer novas flores pro meu jardim. O verde há de trazer esperança e alegria! Meu jardim hoje está cinza e tudo o que eu mais quero é florescer.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Desabafo de um militante - por Alexandre Bortolini


SE VOCÊ é um daqueles gays ou lésbicas que lê uma coisa como essa e diz coisas do tipo: ai, mas isso não vai mudar nunca, com aquele ar conformado e entediado, então, meu amor, por favor, me passe o seu nome, endereço e telefone. Por que quando algum homofóbico quiser uma bicha, sapatão ou trava pra ser ser xingada, humilhada, espancada, esfaqueada, morta ou esquartejada, eu vou mandar procurarem você!

Se você não se importa que esse país continue homofóbico, tudo bem, não tem problema. Mas que você tenha saco e culhão pra aguentar a homofobia toda. Porque eu não quero. Porque eu não tenho mais saco de ouvir ninguém falando que tá certo ou errado o jeito que eu dou a minha bunda! Desculpa, mas não dá pra falar de outro jeito. Porque diabos alguém acha que pode dizer o que eu posso ou não fazer com o meu próprio corpo??? Quem eu posso amar, quem eu posso beijar, ou morar junto? Se você acha que tem um modelo certo de família, de sexo, de andar, de falar, QUE BOM! Viva esse teu modelo e seja feliz! Só entenda duas coisas: 1. a homossexualidade não é obrigatória! 2. a BUNDA é minha!

Alexandre Bortolini
Militante da causa LGBT

terça-feira, 10 de maio de 2011

A verdadeira causa da morte de Lacraia


Foi hoje mesmo que soube que a dançarina Lacraia veio a falecer. Ouvi a notícia por volta das 13 horas, enquanto pegava carona com meu pai para trabalhar. Como é de praxe, ele ouve há anos um programa de péssimo gosto chamado "Patrulha da Cidade", da Super Rádio Tupi, que é transmitido nessa faixa de horário.

Até então os radialistas faziam suas explanações fictícias e já consagradas por explorar em demasia o sensacionalismo. E assim fizeram quando noticiaram que Jair Bolsonaro, o deputado homofóbico, estava distribuindo panfletos contra gays. Ora, é verdade que o tal deputado, indignado com a decisão do Supremo Tribunal Federal na semana passada, resolveu manifestar-se contra a diversidade. O problema foi a abordagem! O radialista debochava: "Cada um dá o que é seu...", como se ser LGBT implicasse necessariamente no ato de ser penetrado. Mas enfim, que se limitassem à ignorância. Pois não se limitaram, e ousaram ser inescrupulosos. Após noticiarem que um "traveco" matou uma mulher por ciúmes do namorado, e outras notícias tão fantasiosas quanto essa, resolveram colocar na pauta a morte da dançarina Lacraia, e foi daí que eu soube que ela havia falecido.

O erro começou por enfatizar o nome de batismo da dançarina. Ora, se ela quisesse ser chamada pelo nome de batismo, usaria o nome de batismo. Custa entender que ela é Lacraia e ponto!? Ou alguém fica por aí publicando os shows de José e Durval de Lima, ao invés de Chitãozinho e Xororó, ou Mirosmar e Welson David, ao invés de Zezé de Camargo e Luciano? Ou ainda, tecendo notícias de fofoca com o nome de Maria da Graça, ao invés de Xuxa, ou exibindo filmes com Arlette Torres, ao invés de Fernanda Montenegro? No caso da Lacraia, a intenção é realmente vilipendiar a honra, humilhar, ferir a história da dançarina.

Mas o que me deixou mais indignado, até mesmo assustado, foi quando um dos radialistas perguntou:

- Morreu de quê, de Aids?

E, ao receber uma suposta resposta afirmativa, completou:

- Viu só? Fica dando o que é seu por aí que você vai ver!, em referência à máxima proferida sobre a notícia da panfletagem do deputado Bolsonaro.

É sabido que o programa "Patrulha da Cidade" nunca teve muito escrúpulos nem muita ética ao abordar temas caros à sociedade e, por isso mesmo, polêmicos (ou melhor, polemizados) por ela, como o são os direitos humanos e a diversidade sexual. Liberdade de imprensa tem limite, minha gente. E é um limite ético! Liberdade de imprensa requer o mínimo de responsabilidade. Vincular a AIDS à prática sexual entre gays, especificamente atribuindo ao penetrado a culpa pela doença, é de um preconceito sem precedentes! Trata-se de uma irresponsabilidade inimaginável, além de refletir ignorância, retrocesso, má-fé. A atitude se assemelha àquela proferida por Marcelo Dourado, quando, ainda no reality show Big Brother Brasil 10, disse que heterossexuais não pegavam AIDS. Que história é essa de que "dar o que é seu" é condição per se de transmissão e recepção do vírus HIV? Como se não existisse prevenção entre LGBT's, como se ser LGBT fosse o bastante para ser soropositivo, como se heterossexuais usassem camisinha em todas as suas relações. E ainda, como se Lacraia fosse soropositiva.

Não é da conta de nenhum jornalista a sorologia da dançarina. A causa da morte não foi divulgada, e se não foi divulgada é porque não interessa. Há que se respeitar! Tantos e tantos artistas homossexuais e heterossexuais morrem em função das complicações do HIV e não há imprensa que tenha culhão de peitar o luto dos familiares desses artistas e de explorar sua dor em nome de um furo de reportagem que desvende que a causa da morte foi o vírus da AIDS. Por que com a Lacraia tem que ser diferente? Por dois motivos: 1) LGBT quando morre, sobretudo se, sendo biologicamente homem, trouxer consigo elementos do feminino, morre em função da AIDS. Não se pode ficar doente, emagrecer, mudar de vida, morrer, porque se é gay, tem AIDS!; e 2) Lacraia é uma aberração para nossa sociedade! Ela não se enquadra no masculino, no feminino, porque ela ousou ser mais que isso. Ela não se encaixou, não coube nas normas sociais. O que matou Lacraia não foi AIDS ou qualquer doença crônica que conste na Organização Mundial da Saúde. O que matou Lacraia, e continuará matando, infelizmente, todos os dias, é outra doença crônica que, por ser produto da sociedade, é considerada uma doença social: o preconceito.

Lacraia não morreu em função da falência de seus órgãos ou em decorrência da desfunção de coração. Lacraia foi assassinada! Sim, assassinada cruel e brutamente por programas como o "Patrulha da Cidade". E ela mesma, defunta, continuará a ser assassinada, morte sobre a morte, dia após dia, enquanto programas dessa estirpe continuarem a desrespeitá-la, destituindo-a de um direito tão fundamental, que é o direito de morrer, privando-a da dignidade na hora da partida.

Por outro lado, é de suma importância lembrar que a morte da Lacraia não é destino manifesto. A esperança de fazê-la viver está nas nossas mãos. Sim, nós já fomos capazes de eternizar tanta gente bacana, representativa, gente que iluminou nossas vidas com tanta alegria e emoção. Ou alguém duvida que Cazuza ainda viva? Eu creio que Renato Russo também está entre nós, assim como Tom Jobim, Jorge Lafond, Noel Rosa, Cássia Eller, e tantos outros, tantas outras artistas.

Vai, Lacraia! Vai em paz, Libélula do Bem! Seja feliz e transmita a alegria de viver aí, do outro lado deste palco da vida, estando certa de que você, enquanto estrela, continuará a brilhar, seja aí, seja cá, nos nossos corações!

***

Se você também se sente indignado ou indignada com a abordagem sensacionalista do programa "Patrulha da Cidade", manifeste-se. Escreva para eles! Mostre sua rejeição a esta prática. Eu fiz isto e você pode fazer também. Hoje, Lacraia é cada um de nós. Clique AQUI para acessar o site deste programa e deixar a sua manifestação de repúdio.


segunda-feira, 9 de maio de 2011

O pastor e o diabo na Terra de Santa Cruz


Hoje eu estive com uma pessoa de minha família que me é muito amada. Infelizmente ela possui um defeito quase congênito: é crente! Digo "crente" no sentido mais piegas do termo. Eu sei que por baixo da estrutura assembleiana repousa um coração amoroso, e muitas de suas palavras condizem com tal sentimento. Mas é tão incoerente quando esse amor encontra uma doutrina fundamentalista meio louca... É em nome do amor que sinto, e pelo amor que eu sei que existe naquele coraçãozinho, que dá pra relevar. Mas como é difícil a tarefa do "fazer-que-não-ouve"! Eis o motivo da minha inquietude.

Esta pessoinha a quem eu tanto amo tem um parente que é da curimba. Sim, bate um tambor desde que me entendo por gente. O camarada já foi alvo de inúmeros ataques verbais de fundamentalistas religiosos evangeloucos, muitos dos quais parentes seus, mas ainda sobrevive com seu terreiro. Não vou dizer que o camarada é o mais confiável dos humanos, porque não é. Talvez não seja o mais honesto, mas em tempos (e templos) iurdianos ser desonesto é quase um elogio. Mas, que raios! Está lá o pobre homem sobrevivendo até hoje com seus trabalhinhos, sua macumbinha, seus batuques que quase não tocam mais. Bons tempos aqueles da minha infância, quando nós tínhamos medo de dormir por causa da festa do terreiro. Dormíamos apavorados porque diziam: "Hoje a macumba tá que tá". E, apesar de eu não ser nenhum douto em religiosidade afro-brasileira até os 10 anos de idade, e não ter a menor ideia do que significava "macumba", sabia que aquilo ali era algo digno de temor. Todo mundo tinha medo. Por que eu não teria?

O fato é que o dito pai-de-santo resolveu pedir a um parente seu, que é pastor, para celebrar um Culto em Ação de Graças pelos seus 60 anos! Ora, o convite até que foi bem aceito, até que... pasmem! - a condição para que o pastor celebrasse o culto - pasmem de novo! - era que o babalorixá aceitasse Jesus! A pessoinha que tanto amo me contou a história indignada, certa de que a celebração dos 60 anos do pai-de-santo realmente deveria vir acompanhada de sua renúncia à religião. Eu não quis contrariar, mas achei a atitude do pastor de uma petulância, de uma superioridade tão medíocre, que o vômito me veio à boca imediatamente.

- Se ele queria agradecer a Deus, tudo bem, mas agradecer a Deus e ao diabo, não dá. E ele ficou com raiva! - dizia minha pessoa amada - Como se fosse uma obrigação celebrar o culto! Se ele não quer aceitar Jesus, é um direito dele, não é obrigado a fazer isto. Da mesma forma, o outro também não é obrigado a fazer culto algum.

Eu não quis criar polêmica, mas como minha língua aguça, não me contive:

- Eu não sei se ele quer agradecer ao diabo. Ele nunca me disse isso...

Ao que a pessoa rebateu:

- Lucifer! Significa "Anjo de Luz", era um anjo que vivia com Jesus no céu e que queria ser maior que Ele. Então ele foi expulso e Jesus lhe deu um outro nome, "Satanás", o diabo.

Eu estava completamente atônito. E, pior, não podia discutir. Era o lance que eu disse, do amor, e bla-bla-bla... Descobri hoje que o pai-de-santo queria agradecer a Lucifer que, a meu ver, só faz sentido na mitologia cristã. Ou nem nela, mas que seja! Pior que isso foi o fato de um pastor se recusar a celebrar um serviço de Ação de Graças devido a origem religiosa de uma pessoa. Achei aquilo tão deselegante. O engraçado da história, é que a máxima de que "venha como estás" foi pra escanteio há muito tempo! De cristão, o pastor, por esta atitude, nada possui. Se acaso o pai-de-santo resolvesse entrar numa igreja, durante o serviço, seria ele expulso do templo? O pastor deixaria de celebrar o culto ou de entoar louvores de adoração e agradecimento a Deus porque há um pagão entre os membros? Se não convém interromper o serviço pela chegada de um não-cristão, das duas uma: ou o pastor nunca leu Mateus 13, e nada conhece sobre a Parábola da Semeador, ou realmente não são bem-vindos nas igrejas cristãs aqueles que não compartilham de sua fé. Prefiro apostar na segunda hipótese. É ela que me faz desmascarar o discurso hipócrita que é sustentado de cima dos púlpitos, de onde se fazem apelos e convites para que as pessoas "aceitem" Jesus, com o único objetivo de algariar almas em cifras. Pois se a verdadeira liturgia se faz fora do templo, a atitude do pastor deveria ser celebrar o dito culto, sim. Claro, afinal não seria isto que ele faria caso o pai-de-santo fosse até a igreja? Então, se ele se recusa a celebrar na casa do pai-de-santo é porque, ao meu ver, ele não não está preocupado em celebrar um culto de agradecimento a Deus, mas em fazer uma guerra santa contra o diabo, esse ser tão supremo, tão onipotente e tão... tão... chifrudo!? Sério mesmo? Enfim, fato é que pouco importa pra ele o sentimento do fiel, do crente, do pagão, do ímpio, do gentio, do raio-que-o-parta! Não interessa que tenha partido do coração do homem a vontade de agradecer a Deus. Mas porque este homem possui uma outra religião, está excluído da oportunidade de agradecer a Deus! Tal como aqueles que não podiam adentrar o templo em Israel, porque eram impuros! Definitivamente, a igreja evangélica exclui! E se não exclui, está sendo hipócrita. Diz que aceita, acalanta, acolhe e, quando tem a oportunidade de mostrar a aceitação, o acalanto e o acolhimento, recusa-se por se considerar mais digna de Deus. Ao resto da humanidade, que se contente com o diabo.

Eu não estou aqui querendo fazer apologia ao proselitismo religioso. Não estou aqui enveredando pela corrente de pensamento que afirma que os cristãos devem pregar a Bíblia para as pessoas a fim de disseminar a salvação, como se esta fosse um fertilizante pulverizado sobre um jardim humano. Minhas convicções religiosas passam longe dessa pregaçãozinha de botequim! Tampouco quero aqui sustentar que o cristianismo deva ser acolhido por pagãos de uma forma ou de outra. Não! Particularmente eu acho que é até bem-feito pro pai-de-santo pedir esmolas a alguém que sempre o alfinetou. Parece-me que ele está agora decidido a procurar um padre. Melhor assim. Quem sabe este não seja mais solidário em realizar um desejo humano e verdadeiro do pobre pai-de-santo. O que eu quero realmente é trazer a reflexão sobre duas coisas: a primeira, o afastamento visível da igreja evangélica de sua verdadeira missão enquanto Igreja de Cristo, isto é, semear o Amor. E ponto. A segunda coisa, é a petulância, a arrogância, a superioridade ignorante que faz com que umas pessoas, as cristãs, sejam as pessoas que escolheram Deus, enquanto as outras, as não-cristãs, são entregues à sorte do diabo, do inferno, de Satanás ou Lucifer. Aliás, é curioso essa história de Lucifer, porque o terreiro do pai-de-santo é um terreiro de candomblé. Perguntei à minha pessoa amada, almejando a confirmação de que era, de fato, um terreiro de candomblé. E era! Não me contive e perguntei o que fazia ali o tal Lucifer. Claro que a resposta não podia ser melhor: o Capiroto estava fazendo companhia ao Boiadeiro, à Pombagira, ao Caboclo, ao Tranca-Rua... a pobre da Oxum, coitada, deve estar agora, chorosa, voltando para África, com medo de inexistir!

Por fim, antes que esqueça, e também pra fazer jus ao título, uma curiosidade latente à minha cabeça. Talvez o tal pastor, ou outro qualquer, tendo a oportunidade de me ler um dia, possa me responder: por que com tanta injustiça no mundo, com tanta fome, tanta miséria, com guerras explodindo em cada canto deste planeta, com assassinos seriais transitando livremente, terroristas se inflamando, com o Silas Malafaia e o Jair Bolsonaro à solta, e o Oriente Médio beirando o caos... enfim, com tanta coisa de ruim nessa bola gigante e azul, que é a Terra, o diabo realmente tinha que baixar aqui, logo aqui, no terreiro de um bairrozinho chinfrin de Duque de Caxias!?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Assassino de Realengo: uma história cristã - por Renato Hoffmann


E de repente estava diante de um “pedaço de carta”, lia aquelas palavras como uma navalha penetrando em minha carne, rasgando... Atônito!

Tenho dois sobrinhos e não suportei o fato de imaginá-los numa situação desesperadora e, então, de súbito, voltei-me ao jovem; àquelas palavras, todo seu desespero, toda sua agressividade.

A sociedade se encontra passada, não há explicações... Talvez, antes, algo que acontecia nas terras de cima, lá no norte das Américas, agora, logo ali, no Rio de Janeiro! Aqui em baixo, próximo das nossas casas, perto dos nossos parentes; dos nossos filhos, sobrinhos, netos, amigos, amantes, sim, nas nossas escolas!

Ouvir dizer, na fila do banco, que aquele moço deveria ser enterrado com o capeta! Uma lagrima caiu de meus olhos, lembrei-me da carta. Poucas coisas nessa vida tem a capacidade de me impressionar, mas, essa carta... Puxa vida!

Sabe, já escrevi cartas e, em muitas delas, uma preocupação me movia: expressar o que se passava dentro do meu coração, na minha alma. Como ficar indiferente àquele pedaço de texto? Em uma tragédia, geralmente, as pessoas se indignam contra a aparente causa, o desafeto imediato: “aquele assassino, monstruoso!”, mas há uma carta!

Sim, um pedido de perdão, um grito de socorro, um desejo de alento: “Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu”.

Cada palavra um punhal, mas não de um cruel assassino, o assassino não é ele! E não se estarreça com o que digo. Wellington não tinha antecedentes criminais, ele é tão vítima quanto às vítimas dessa tragédia. Vítima de algo que acontece no Brasil todos os dias, vítima de todos os domingos, vítima de programações de televisão, nas madrugadas, ou nos sábados pela manhã. Vítima da pureza, da santidade, da moral exacerbada, da hipocrisia dos falastrões: vítima da RELIGIÃO, do fundamentalismo, da esperança da ressurreição, de um Cristo justiceiro, de um Deus irado na justiça despótica, severo.

Alguém anunciou: “ele era muçulmano.”. Ei, pera lá! Muçulmano que acredita na ressurreição dos mortos, na segunda vinda do Cristo? Isso é coisa de cristão! Daqueles que passam o sábado ouvindo dizer da vitória de Cristo! Ou que passam as madrugadas buscando com quem falar; para alguém escutar!

Wellington foi vítima de um sistema religioso perverso, de preconceitos contra o próximo, de preconceitos contra si mesmo, preconceitos que ele adquiriu e, talvez, se pelo menos ele tivesse sua mãe por perto... Dela sentiu falta, pediu perdão, mas continuou, em nome de seu preconceito, vitimar os outros, como dele foi vítima. Não havia saídas... não havia escape! Ele já estava morto... Vitoriosos em Cristos mataram sua alma, o show da fé se transformou no circo de horrores, um pesadelo que se sonha acordado. Ele até quis falar, mas, como de praxe, fingiam que o escutavam, enquanto mais ódio e justiça de Deus eram colocados no seu coração. Mas, ele ainda pediu para que seu corpo fosse preservado puro, na esperança, de ainda, encontrar-se, na glória, diante do trono!

Há quem diga que isso foi alvo de possessão demoníaca! Ah Nicodemos! Bem que Jesus disse: "você tem que nascer de novo, rapaz!"

Essas são as marcas imediatas do que se conhece do fundamentalismo religioso, mas e as marcas que não são visíveis? Aquelas que ficam na alma? Deus tenha misericórdia de nós!

Por: Renato Hoffmann
Fonte: www.gospelgay.blogspot.com

quarta-feira, 6 de abril de 2011

É isso o que a gente quer dizer com HOMOFOBIA

Amigas e Amigos,

Tá difícil compreender!

O debate se polariza, grupos libertários e direitistas entram em choque de opinião. O deputado vocifera barbaridades em rede nacional, milhares de pessoas aplaudem o parlamentar, outras protestam nas ruas.

E você, em meio à crise ética que se instalou na Câmara dos Deputados, admite que o preconceito de fato existe no país, mas não/jamais/nunca é proveniente de você ou da sua família.

Sua opinião tende a ser sempre a do "mas também". Sim, eles sofrem preconceito, mas também... a) procuram; b) dão pinta; c) são preconceituosos entre eles mesmos; d) não querem se arrepender de serem o que são.

Seu coração se sensibiliza com a dor, mas reluta em se libertar dos dogmas religiosos que insistem em condená-los ao inferno.

Os tempos de Moisés são ultrapassados demais para que aceitemos a poligamia (Deuteronômio 17:17; 21:15; Levítico 18:18) ou para que condenemos o camarão na nossa ceia (Levítico 11:10 a 12), mas incrível e paradoxalmente é super atual para os versículos que os tornam "fora da Lei", marginais, excluídos. Neste caso, Lei com L maiúsculo mesmo, porque trata-se da eterna e inquestionável Verdade Bíblica, a Palavra de Deus. E você evita debater o tema, confortando-se na sua roupa da moda de algodão e poliéster (Levítico 19:19).

Tudo bem, dá pra entender. Einstein dizia que é mais fácil quebrar um átomo que um preconceito. Por outro lado, o mesmo Einstein disse também, certa vez, não saber como seria a Terceira Guerra Mundial, mas que certamente a quarta seria com paus e pedras. Será o início da Quarta Guerra Mundial? Se for, certamente o início dela é aqui, no Brasil.

Tudo bem, dá pra entender. Com muito esforço, dá pra entender. A gente entende a ignorância. A gente entende que é a ignorância não entende a gente. É seu direito, dá pra entender.


Mas olha aqui! Só um minuto. Já que não custa nada, absolutamente nada, aprender mais um pouquinho, que tal você abrir mão da ignorância e se libertar das amarras do preconceito neste momento? Por uma causa nobre, muito nobre, tente entender.

É claro que o assunto é bastante complexo, polêmico, "complicado". Tá certo! 1 x 0 pra você! Existem detalhes, uma discussão enorme acerca da sopa de letrinhas, uma série de subdiscussões internas sobre o assunto, talvez complicadas demais para pessoas leigas como você. Mas para começo de conversa, acho que o que segue abaixo vale como introdução para este tema. Então, pra te ajudar a entender, entre outras coisas...






...é isso o que a gente quer dizer com HOMOFOBIA:










Jocivaldo Alves, travesti, 26 anos, Ubatã (BA)

Reinaldo Davino, travesti, Maceió (AL)

Walberty, travesti, 16 anos, Simões Filho (BA)

Alexandre Ivo, 14 anos, São Gonçalo (RJ)


Veja aqui mais imagens da epidemia do ódio no Brasil - Fonte: Grupo Gay da Bahia

Veja aqui a tabela dos assassinatos de LGBT's em 2010 - Fonte: Grupo Gay da Bahia



Se você é solidário(a) a esta causa, encaminhe o conteúdo desta postagem para seus amigos da sua lista de e-mail. Certamente alguém nela precisará ver o conteúdo desta mensagem.

PELO CASAMENTO CIVIL ESTENDIDO TAMBÉM AOS LGBT'S
PELA CASSAÇÃO DO DEPUTADO JAIR BOLSONARO
PELA CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA
PELO DIREITO DE AMAR QUEM QUISER
PELA APROVAÇÃO DO PLC 122/06

PELA LIBERDADE DE SER


PELA VIDA


Fim das Férias


Após mais de três meses hibernando meus pensamentos, resolvi hoje retornar dessas mais que prolongadas férias! Estava com saudade de escrever, de dar aquela mijadinha, de aliviar bem gostoso os pensamentos que saem quentinhos da minha cabeça.

Tanta coisa eu pensei como tema para estrear as postagens de 2011, mas no fim das contas todas elas ruíram com o passar dos dias. Mas ainda hei de arrolá-las no decorrer dos meses. Tantas coisas boas aconteceram, tantas mudanças, que eu sequer tive tempo de compartilhar com vocês. Alguns sabem, na verdade. Talvez a maioria. Apesar disso, não posso deixar de confessar aos demais que deixei de lado o blog para me entreter e interagir através de outras redes sociais. Mas peço a você, que acompanha o Sai na Urina, que não se aborreça pela ausência desses muitos meses. Sem ciúmes, combinado assim? Apesar de ser, de fato, redundante fazer este pedido, porque grande parte dos meus leitores mijões dão lá suas aliviadinhas nas outras redes sociais, e assim acabamos mantendo contato, mesmo no período de férias.

Se você sentiu saudades, muito mais eu senti. E prometo que a partir de hoje não mais te abandonarei. Aos pouquinhos darei ciência a todos e todas dos melhores momentos das minhas férias, bem como das mijadas que certamente marcarão o ano de 2011.


Um abraço bem apertado, mas bem apertado mesmo, com a esperança do alívio vindouro!


Léo