quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

...e o ano acabou!

Última postagem do ano. Trago nas palavras o gosto de tudo aquilo que não consegui registrar. O sabor da pressa é o mesmo da saudade, porque se trata do gosto daquilo que não pode ser materializado, é o gostinho do quero mais. É também o gosto da morte - e não há nada de aterrorizante quando falo da morte - porque ela é também saudade. O ano de 2009 acaba de dar seus últimos suspiros, e neles posso enxergar os restinhos de fôlego que levamos para essa nova vida que virá depois da meia noite. Quer se preocupar com a vida após a morte? Preocupe-se, pois! Mas lembre-se de que a morte começa agora, tal como a vida. O que morreu em 2009? Quanto de fôlego levo para semear em 2010? E você?

Quis escrever uma carta para meus alunos, mas nem consegui. Mas deixo nesta última postagem os meus agradecimentos por todos os momentos de gozo e estresse que compartilhamos ao longo deste último. Para o próximo ano ficarão as fotos da formatura e das confraternizações que me fizeram muito feliz junto a eles, os meus queridos alunos. Seus trabalhos, atividades, prometo não deixar passar para 2011...

Não consegui dar expressão à minha alma, à minha grande paixão, esse vagabundo insólito e cretino que me faz perder noites de sono de tanto que me invade a cabeça e o coração, que se deita comigo e comigo levanta, esse com quem eu posso ser muitos e muitas: o teatro. Onde estão os registros da minha última apresentação? Ficaram no ruir da pressa, mas em 2010 todos poderão compartilhar neste blog os sabores e dessabores de "As Relações Naturais". Sim, não foram louros apenas. Mas o que passamos de bom e/ou de ruim nos serviu como semente para semearmos nos palcos da vida, em 2010.

Quanta coisa para escrever...

Mas o tempo me usurpou a escrita e os festejos de fim de ano me impedem de continuar a celebrar a nostalgia do que se foi. Agora tenho que ir ao mercado, urgente, comprar os últimos comes e bebes para o Réveillon. Nem sei, aliás, como será este ano. Deus parece estar aborrecido, ou muito triste. Suas lágrimas não param de cair sobre o Rio de Janeiro, e pelo menos nas últimas horas já somam nove, pelo menos, o número de mortos com as chuvas que inundam as cidades do estado. Comprometi-me com a viagem para Cabo Frio, mas temo o trajeto até lá com esse tempo. Será que chegarei à Praia do Forte antes da meia-noite? Será? O trânsito parece que parou para formar uma grande corrente de luzes, um gigantesco pisca-piscas natalino. Mas ora, que decoração mais atrasada, sabemos que o Natal já é passado. Mesmo assim, os faróis do engarrafamento insistem em trazer, sob o temporal contínuo, a lembrança de uma árvore de natal rodoviária.

Tenho que ir, preciso. E, como me sobram palavras mas me falta o tempo, prefiro não terminar este texto, e deixar por conta das lacunas a conclusão sobre o que foi 2009 e...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Banquete dos Excluídos: Pastor gay lança no Rio livro de mensagens bíblicas voltadas ao público LGBT

O reverendo Márcio Retamero, historiador, teólogo e pastor da Comunidade Betel do Rio de Janeiro, lança no próximo dia 18 de dezembro, no Rio de Janeiro, seu primeiro livro, "Banquete dos Excluídos" (Editora Metanoia).

A obra é uma coletânea de mensagens bíblicas ministradas na Comunidade Betel no ano de 2007. Pastores heterossexuais, líderes de igrejas como a Igreja Presbiteriana, a Igreja Anglicana Episcopal do Brasil e um padre jesuíta, Luis Corrêa Lima, professor da PUC Rio, escreveram pequenos textos inseridos na orelha e contracapa do livro. O prefácio é assinado pelo reverendo João Valença, pastor presbiteriano.

Márcio Retamero, que também assina coluna no site A Capa, já planeja mais três livros para 2010. A Editora Metanoia, nova no mercado, pretende disponibilizar livros sobre Teologia Inclusiva, além de outras temáticas LGBT que ainda não foram traduzidas para o português.
Serviço:
Lançamento de Banquete dos Excluídos, de Márcio Retamero
Dia 18/12, às 19h
Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo (Praia de Botafogo, nº 430, 2º andar. Botafogo, Rio de Janeiro)

Fonte: www.acapa.com.br

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

As Relações Naturais


Convido a todos e todas para assistirem à montagem de final de curso que apresentarei no Teatro SESC de Engenho de Dentro, no dia 19 de dezembro deste ano, às 20h.
O ingresso custa apenas DEZ REAIS, e pode ser comprado diretamente comigo. O SESC fica praticamente em frente à Estação de Trem Olímpica de Engenho de Dentro, descendo do lado esquerdo (sentido Central-Santa Cruz).

Conto com a sua presença!

sábado, 14 de novembro de 2009

Entre o Muito e o Pouco, o Sai na Urina completa seu primeiro ano!

Em 14 de novembro de 2008 pari, no seio do ócio criativo de um dia demasiadamente chato, o veículo virtual de expiação do estresse diário nosso de cada dia. Era o Sai na Urina, que nasceu fruto da necessidade de passar por cima de tudo aquilo que sufocava o corpo através da opressão da alma.

Nesse primeiro ano, o Sai na Urina assistiu – junto com todos nós – a diversos episódios do cenário úrico brasileiro e mundial: há um ano Michael Jackson prometia fazer um retorno inesquecível em Londres com um mega espetáculo que, ao fim e a cabo, não aconteceu porque ele morreu em meados de 2009. Simples assim! Em menos de um ano as escolas e outras instituições de educação do país se organizaram em prol das Conferências Municipais e Estaduais de Educação, prelúdio à CONAE 2010, que acontecerá ano que vem. Nesse ínterim, assistimos à queda de helicóptero no Rio de Janeiro e à proibição da Parada LGBT de Duque de Caxias, pelo prefeito Zito. A homofobia, por assim dizer, foi combatida em ato público celebrado aos pés do Cristo Redentor, o qual, de braços abertos, abençoava a escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016 e, paralelamente, como melhor destino gay internacional. Em um ano as Escolas de Samba ganharam seus títulos e seu dinheiro para desconstruírem seus enredos e reconstruírem seus carros alegóricos e adereços para o novo carnaval que ainda está por vir. Lévi-Strauss morreu, mais velho que Michael Jackson, e também com mais de 100 anos quase também foi embora o arquiteto Oscar Niemeyer. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, neste primeiro ano de seu mandato decidiu pôr em prática o Choque de Ordem, através do qual a cidade passou a ficar mais bonita e limpa; contudo, mais cruel e injusta com aqueles que não têm de onde tirar o seu sustento, senão das ruas. Há menos de um ano, as escolas públicas e muitas da rede privada fecharam suas portas devido à epidemia da Gripe A H1N1 – a ex-Gripe Suína – que fez do porco o animal mais falado no inverno de 2009. Em um ano assistimos a pelo menos dois acidentes drásticos com aviões, envolvendo o nosso país: o primeiro deles foi o mais desastroso, com uma busca insistente por semanas e o resultado dela: cem por cento de óbito; a aeronave da AirFrance caiu no Oceano Atlântico matando a tripulação e os passageiros. O outro caso foi com o avião da FAB, recentemente, que foi obrigado a fazer uma aterrissagem de emergência em um rio da Amazônia; salvou-se a maioria dos que a bordo estavam. Obama também ajudou a salvar a reputação dos Estados Unidos, surpreendendo a nação do Tio Sam com uma guinada histórica em 2009, na contramão do percurso soberbo daquele país ao longo dos séculos de sua existência. Mas não foi necessário esperar um ano para que o presidente negro dos Estados Unidos tivesse sinais de reprovação nos municípios americanos, a despeito de sua pop-pluralidade a nível internacional.




Quanta coisa aconteceu nesse primeiro aniversário! A maioria sequer chegou a ser publicada no blog. Isso me fez refletir sobre a nossa falta de tempo que assola a humanidade na Era da Informação. Ao passo que as notícias se aceleram, também acelera o nosso metabolismo, no sentido de tentar da conta do mundo que passa rápida e avassaladoramente pela gente, destruindo nossos sonhos e consumindo a nossa energia. Em um ano muita coisa acontece, mas esse Muito acaba ofuscando o Pouco, isto é, o tempo que nos falta para ir ao cabeleireiro ou para namorar; o tempo para estudar com mais afinco ou para refletir sobre as mazelas do mundo; o tempo de estar mais tempo com a família, com os amigos ou com o próprio Tempo; o tempo de orar, rezar, meditar; o tempo de planejar, pensar, sonhar; o tempo de pensar a própria História – o Presente – que existe sozinho nessa imensidão que é a Eternidade. Sim, o Presente é uma dádiva solitária. Ele é como a lua que, boiando no céu, ora se destaca iluminada, ora se esconde na escuridão, mas entre idas e vindas permanece firme no firmamento, apesar do dia que a sufoca. Nosso dia também sufoca o nosso Presente; trabalho, negócios, compromissos, agenda lotada, trânsito, conservadorismo, engarrafamento de ideias... onde está o nosso Presente? O Futuro não existe e o Passado já se foi. Só o que existe é o Hoje, mas ele está comprometido com as notícias, as informações, com o acelerar da vida, com os compromissos inadiáveis, com a religião, com a rotina... com o Dia! Com o dia-a-dia. Assim como a lua só é percebida quando está iluminada, espreitada pela escuridão, assim nosso Presente só faz sentido quando nele depositamos nossos sonhos, nossos projetos, nossas ações de Vida!


Por este ponto de vista, o primeiro ano do Sai na Urina representa o Pouco. Passou rápido demais, foi-se. Não deu tempo de viver tudo aquilo que me faz feliz! Ainda tem muita urina nessa bexiga, muito mijo pra jorrar, muito estresse pra expiar. Eu prefiro apostar no Pouco que no Muito, porque o primeiro me permite a Incompletude, a qual é não menos que o combustível para se buscar a virtude que certamente não chegará: a Perfeição. Mas não estou falando da Perfeição mesquinha e hipócrita dessa sociedade suja e mal-caráter. Estou falando de algo além, do transcendente, do espiritual, do sentir, do ser... falo da Perfeição que nos inspira, nos motiva, que nos coloca no nosso lugar de imperfeitos e nos ensina a buscá-la, construindo o Bem ao longo do nosso Presente (com tentativas inglórias ou bem sucedidas), ao longo de cada uma das fases de nossa Lua, ao longo da Vida; porque é no caminho que se faz o caminho, que – assim como a Lua e o Presente – só existirá enquanto houver quem o faça existir.


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Escândalo no Esporte: fotos exclusivas de ensaio de boneca violentada


Boneca esportista supera violência e escandaliza a imprensa ao divulgar fotos de ensaio sensual realizado no subúrbio do Rio



A esportista, com um um microvestido, realizando um salto sobre mesa

Pirueta a 90º

Fotos mostram detalhes de cada passo dos movimentos da atleta

Vestido não consegue esconder as curvas dos movimentos de boneca

Alpinismo - Atleta mostra como escalar um quadro de avisos

Alpinismo - esporte mostra sua sensualidade nas lentes de fotógrafo do Rio de Janeiro
Boneca escalando um quadro de avisos

Sensual, boneca ora violentada se equilibra sobre um calendário

Rapel em Porta - Boneca mostra força e destreza em ensaio sensual

Atleta supera violência e mostra sua capacidade no Rapel em Porta
No trampolim, preparando-se para um salto

Salto sobre vara

Halterofilismo - atleta levanta peso equivalente ao quíntuplo de seu peso

Halterofilismo - atleta mostra que o esporte não requer apenas força, mas equilíbrio e inteligência

Hipismo com Squeeze - o ensaio procura conciliar as curvas de boneca com as de garrafa

Ousadia na Ginástica Olímpica

Boneca consegue juntar ousadia, sensualidade e destreza em movimentos da ginástica

Ginástica de solo - a atleta praticamente voa e leva a brinquedoteca à loucura

Flexibilidade é uma das habilidades de boneca

Making of: boneca não dispensa musculação antes do ensaio

Making of: boneca relaxa durante a sessão de fotos

Making of: durante ensaio, boneca ascena para fãs que foram lhe dar apoio depois do episódio de violência pelo qual passou na última semana

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Rio

Não lembro na verdade quando compus este poema, sequer me recordo do ano. Posso apostar que deve ter sido entre os anos de 2005 e 2006 que o redigi, motivado pelos grandes contrastes sociais que vivemos neste país e concentrados, em metáfora poética, no Rio de Janeiro. Espero que você se deleite nas águas deste rio de palavras urinadas ao vento e possa refletir, através de seus contrastes, sobre as populações ribeirinhas que dele - ou à margem dele - sobrevivem.


O Rio
2005-2006


Um rio nasce no caos
Brota do caos profundo
Em suas águas, suas naus
Em suas naus, o mundo
O rio navega e vive
O rio enxerga imagens
O rio, veloz, desce livre
Rasga fundo suas margens
As naus encalham nas rochas
Interrompida a viagem
E olha, e vê cedo demais
E pára o curso das águas
A contemplar o que crê
As belezas fluviais
De um lado, na margem, um cais
E nele, homens demais
O rio observa, vê
Palácios, indústrias, dinheiro
A sede dos empresários
Mais a fome dos banqueiros
O rio encalha e vê
À margem o bel-paraíso
Ele, o rio, sem demora
Admira os animais
E toda a fauna e toda a flora
E tudo o que for preciso
O rio se livra das pedras
Consegue seguir viagem
Apreciando as gaivotas
Lembrando da paisagem
Que vira em sua rota
O rio se engrandece
Do mundo que aparece
Desce abaixo a montanha
Contente como quem ganha
Um afago de menina
O rio com suas águas
Flui nas rochas e imagina
Sua viagem, suas margens
Como as gaivotas do cais
Livres tal como eram
Nos palácios, nas indústrias, no dinheiro
Banqueiros, empresários e animais
Mas rios por vezes erram
O erro os leva a mudar
Seu rumo, seu pensamento
Seu destino, tanto faz
O rio se desespera
Quando vê os animais
No seio de sua viagem
O outro lado, a outra margem,
Outros tipos de animais
Bichos em sofrimento
Lixos em desalento
Podres e pobres demais
A margem oposta ao palácio,
Muitas vilas de madeira
Do lado oposto aos banqueiros,
Gente rude sem salário
Bem longe dos empresários,
Explorados sem dinheiro
O rio, entre seus lados
Nasce desnorteado
Ou curva-se à beleza
Do império da riqueza
Ou vira-se com pena
Da pobreza e da miséria
O rio se desmerece
O rio se descontenta
De ter deixado a nascente
Sua casa, seu refúgio
Abrigo não mais presente
O rio se entristece
Do mundo que enlouquece
O rio só sente agora
As vidas e suas sombras
As almas que chocam o rio
Ele, o rio, se assombra
O rio pensa, seu peito chora
Seu leito chama
Seu curso implora
O rio entende
O quanto é gente
De repente perde-se a esmo
O rio ria, agora chora
O rio foge de si mesmo
Sem rumo, sem rota, sem nada
O rio sofre e se entrega
Navega o rio sem sorte
Sem forças, com medo, sem meta
O rio se lança sem norte
O rio avança, o rio corre
O rio se cansa...
E morre.



Léo Rossetti

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A gente não quer só comida!

Caros amigos,

A despeito de qualquer crítica que possamos ter às Paradas do Orgulho LGBT e ao movimento LGBT no Brasil, como um todo, o manifesto a seguir é digno de leitura. Peço que repassem a todos os seus amigos. Trata-se da atitude arbitrária e completamente anti-democrática, ocorrida no domingo, 11 de outubro de 2009, na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. O prefeito da cidade impediu que fosse realizada a 4ª edição do evento, oferecendo à população desculpas moralistas e relacionadas a uma suposta aliança com grupos evangélicos (argh!) da cidade. Leiam, repassem e deixem seus comentários nas reportagens sobre o cancelamento da parada nos links que seguem:

Reportagem do Jornal O Globo
Reportagem do portal G1
Comentem também no site oficial da cidade, na seção Fale com o Governo!


A gente não quer só comida!
Manifesto contra o cancelamento da Parada LGBT de Duque de Caxias

A Comunidade Betel do Rio de Janeiro, organização religiosa da qual sou membro, preparou-se hoje para militar pela Inclusão Cristã da população LGBT na cidade de Duque de Caxias, através da 4ª edição da Parada do Orgulho LGBT da cidade (que já é considerada a segunda maior do Estado, atrás da de Copacabana) e qual não foi minha surpresa ao chegar ao local! O evento estava cancelado!

A Avenida Brigadeiro Lima e Silva, onde ocorreria o evento, estava lotada. Os carros de som estavam preparados, a população em massa, concentrada. Milhares de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros reunidos, mas não puderam caminhar porque o prefeito da cidade, José Camilo Zito dos Santos, impediu o acontecimento do evento.

Ora, a fama de coronel do dito prefeito já é conhecida de velha data. Com seu discurso de cunho populista, muito mal acabado, conseguiu se eleger ano passado novamente, após um recesso de 4 anos que interrompeu seu duplo exercício na prefeitura, após os 8 anos ininterruptos em que se manteve no poder executivo da cidade. Entretanto, a resposta deste cidadão (?) ao povo que o elegeu não possui outra palavra senão TRAIÇÃO. Zito traiu o pacto que todo governante precisa ter com o seu povo. Isto porque, em uma democracia, o que é do povo é do povo! Não há líder político algum que pode impedir. E os direitos da população LGBT são algo que está sendo reivindicado pelas lésbicas, pelos gays, pelos bissexuais e transgêneros de Duque de Caxias, cidadãos e cidadãs e pagam seus impostos, muitos dos quais sem possuir o luxo e a riqueza que o seu Excelentíssimo Coronel-Mor possui. Zito dá migalhas a porcos! Zito acha que os cidadãos e cidadãs caxienses merecem não mais que ruas enfeitadas de azul e amarelo, meio-fios pintados de um mostarda sem-graça e sem sabor, pontos de ônibus redesenhados e instalados sem necessidade, asfalto, show e obra. Não, prefeito, como diz a canção, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte (...) a gente quer saída para qualquer parte (...) a gente quer bebida, diversão, balé (...) a gente quer a vida como a vida quer”. Mas a nossa vida tem sido ceifada por não poucos homofóbicos – classe da qual o senhor sem dúvida participa – que, se não atuam diretamente, apoiam a prática homofóbica, inclusive porque se omitem diante dela.

Qual o motivo para impedir a 4ª Parada LGBT de Duque de Caxias? A resposta veio ainda durante a concentração do evento: o prefeito se mancomunou com um grupo de evangélicos da cidade, os quais lhe teriam prometido aliança para sua futura candidatura ao Governo do Estado do Rio de Janeiro. E o que vem dessa corja evangelical não poderia ser algo diferente do que a condenação dos LGBT’s, não apenas ao Inferno, mas ao inferno que é viver à margem da sociedade, com seus direitos negados, alijados dos privilégios que sempre foram ostentados pelos heterossexuais (como o direito à liberdade de amar a quem quiser, o direito de beijar quem quiser, o direito de feliz, de dar carinho, de viver a vida como a vida quer...). Este motivo, contudo, não é oficial, mas é provável que tenha seu fundo de verdade, sobretudo se considerarmos a ambição do prefeito em questão. Contudo, o que há que se analisar é o pronunciamento oficial da Prefeitura, que é sobre ele que geramos os nossos argumentos e podemos nos posicionar. O prefeito impediu a Parada LGBT porque o evento causa muitos transtornos à cidade, e que os homossexuais fazem gestos obscenos em público. Em primeiro lugar, gostaria de informar a todos vocês que o atual prefeito de Duque de Caxias se elegeu e/ou se manteve no poder às custas de inúmeros shows financiados com verba pública, com artistas famosos, showmícios megalomaníacos, muitos dos quais realizados para comemorar alguma façanha, um aniversário da cidade, a reeleição, a vitória de alguma coisa importante para ele. Quantos não foram os shows de música gospel autorizados pela Prefeitura de Duque de Caxias? Por quantas vezes não tivemos nossas ruas interditadas? Uma dessas vezes foi há duas semanas atrás, quando a Prefeitura autorizou a interdição da Avenida Brigadeiro Lima e Silva, no mesmo local da Parada LGBT, para a edição de uma grande feira de automóveis, num domingo ensolarado como o do dia 11 de outubro de 2009. Entretanto, diferente da luta pelos direitos LGBT’s, o mega feirão não foi cancelado! Quanto aos gestos obscenos, informo que esta palavra é um juízo de valor, e o senhor há de explicar o que significa “obsceno”. Para o senhor, “obsceno” pode ser dois homens se beijando em público e, por mais que o senhor ache que isso escandalize, prefeito, este ato É UM DIREITO! Os demais gestos que a lei impede de serem realizados (como a prática de sexo explícito, por exemplo) não são privilégios dos LGBT’s e caso acontecessem, caberia à segurança pública da cidade impedi-los. Conheço inúmeros heterossexuais que praticam sexo publicamente em momentos os mais variados e, nem por isso, a Prefeitura deixa de promover as micaretas, os shows evangélicos, os pagodões, as festas eleitoreiras. Mas o que nós queremos, José Camilo Zito dos Santos, não é o direito de praticar sexo explícito nas ruas de Caxias, mas o direito de andarmos nas ruas da cidade, sozinhos, inclusive, sem sermos apedrejados, injuriados, machucados ou MORTOS pelo fato de sermos lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.

O cancelamento da Parada LGBT de Duque de Caxias foi um desserviço da Prefeitura de Duque de Caxias à população caxiense e, de maneira geral, a todos os fluminenses que lutam por uma sociedade mais igualitária e justa. E o senhor, como líder deste ato cruel – que impediu que as milhares de pessoas ali reunidas caminhassem pacificamente em busca de seus direitos – passou a integrar a rede de cúmplices pela morte de milhares de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que têm suas vidas ceifadas simplesmente pelo fato de serem quem são. Eu, como cidadão, caxiense, professor, cristão e integrante da população LGBT, tenho vergonha de ter no Executivo da minha cidade o senhor como prefeito. No que depender de mim, Zito, nunca mais pisarás na Prefeitura de Duque de Caxias ou em qualquer outro órgão que possa lhe render algum cargo político. A cidade que acaba de ser palco da I Jornada de Educação LGBT, comete essa gafe histórica e nada educada, cujo agente principal é o senhor. E o senhor, prefeito, acaba de ganhar um opositor e, esteja certo, um opositor que não caminha sozinho. Para ti, no pleno exercício da minha cidadania, ofereço o meu desprezo e o meu asco, em nome da minha consciência que me faz cidadão, que me faz livre, que me faz viver dignamente toda a vida que ainda não me foi retirada por gente como o senhor.

Léo Rossetti

Se você também repudia a atitude do prefeito de Duque de Caxias, assine esse manifesto e repasse a seus amigos por e-mail.

sábado, 15 de agosto de 2009

Eu, ateu

Poesia publicada em primeira-mão no Sai na Urina, "Eu, ateu" é uma reflexão sobre a busca do homem pelo divino. Trata-se de um questionamento - logicamente muito baseado na minha experiência pessoal - acerca da relação de troca e de barganha forjada entre a humanidade e o seu deus. A letra minúscula é intensional e, ao mesmo tempo, traduz a crítica que todo o poema faz a essa projeção que o homem ousou chamar de Senhor. Sem grandes pretensões, é, enfim, um protesto em forma de verso e urina contra o que nós fizemos dEle.

Eu, ateu
2009

O que espero deste que oferece
Se buscando ajuda, desespero?
Se buscando um amigo, austero?
Se buscando por calma, o berro?
Desse que, asteuro, oferece desespero e berro
Diz pra mim, o que espero? Qual o meu erro
Se não é esse deus que quero?

O que pensar deste que forma
Se buscando completude, vazio?
Se buscando graça, castigo?
Se buscando a mim, inimigo?
Desse que forma vazio, castigo e inimigo
Diz pra mim, o que pensar? Qual meu erro
Se não é esse deus que sigo?

O que tenho neste que professa
Se buscando perdão, sentença?
Se buscando a cura, doença?
Se buscando justiça, vingança?
Desse que professa sentença, doença e vingança
Diz pra mim, o que eu tenho? Qual meu erro
Se esse deus não me alcança?

O que vejo neste que se mostra
Se buscando o Pai, o padrasto?
Se buscando o Filho, o carrasco?
Se buscando o Espírito, o mágico?
Desse que se mostra mágico, carrasco e padrasto
Diz pra mim, o que eu vejo? Qual o meu erro
Se nesse deus encontro asco?

O que recebo deste que barganha
Se buscando verdade, vergonha?
Se buscando palavra, peçonha?
Se buscando a paz, insônia?
Desse que barganha insônia, peçonha e vergonha
Diz pra mim, o que recebo? Qual meu erro
Se a esse deus me contraponho?

Em que acredito neste que ganha
Se buscando respeito, a fama?
Se buscando ética, trama?
Se buscando caráter, lama?
Desse que trama lama e ganha fama
Diz pra mim, em que acredito? Qual meu erro
Se não é esse deus quem ama?

O que adorar neste que dá
Se buscando o alvo, a ira
Se buscando a justiça, a mentira
Se buscando socorro, atira
Neste que atira a ira e a mentira
Diz pra mim, o que adorar? Qual o meu erro
Se esse deus não me inspira?

O que anseio deste que quer
Se buscando o pão, dinheiro?
Se buscando abrigo, o cheio?
Se buscando o interior, o meio?
Deste que quer, no meio, estar cheio de dinheiro,
Diz pra mim, o que anseio? Qual meu erro
Se não é nesse deus que creio?

Leo Rossetti
15/08/2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Santa Maria Imaculada das Dores das Frustrações


O que faço nesta postagem não é nenhuma mensagem de cunho religioso, apesar do título. É apenas o fruto das necessidades fisiológicas que temos de colocar para fora tudo aquilo que incomoda, perturba, fere: quero desabafar! É o que neste blog chamamos de "Sair na Urina". E tem coisas que precisam sair na urina mesmo, porque se ficarem dentro do corpo acabam fazendo mal à alma.

O que eu quero tanto jogar na privada? Se pudesse, jogaria agora mesmo a minha colega de trabalho. Mas, não podendo fazer - sob o risco de entupir o recipiente - prefiro lançar ao esgoto aquilo que faz dela um ser ímpar: a sua vocação para mártir. Maria é minha amiga há anos, mas há meses vem amargando as dores de suas próprias frustrações com o casamento. O que eu tenho com isso, senão o sentimento de solidariedade de tentar ajudar? Nada. Mas ontem Maria resolveu aprontar comigo... sentindo-se incomodada, alegando estar sendo subjugada e inferiorizada, além de mal recompensada por não ter sido comunicada dos acordos de trabalho que lhe não diziam respeito nem interferiam no seu trabalho, resolveu travar uma discussão fútil - tal como a própria - sobre o fato de eu não reconhecer os meus erros. Ora, Maria, por que cargas d'água eu deveria te avisar que não trabalharia na segunda-feira e, ao invés disso, nosso colega o faria em meu lugar? Por acaso você é a líder do seu setor de trabalho? Por acaso eu trabalho no seu setor de trabalho? Por acaso você trabalharia junto comigo no horário em que eu deveria comparecer ao meu setor de trabalho? Não, Maria, você simplesmente iria embora. Mas por que se incomodar tanto, Santa Maria Imaculada das Dores das Frustrações, com os outros e com o que os outros fazem? Maria, você é uma mulher linda, para não dizer "gostosa", já percebeu? Quantas vezes você se desfez das pessoas, ao passo que elas estiveram sempre ali para te ajudar? Por acaso foi você que subiu ao calvário da Direção, foi? Não, não foi.

O que explica o incômodo de Maria? Eu tenho um palpite. Poderia arriscar e dizer que é o casamento falido, mas não é. Maria sempre foi assim, desde antes de seu casamento. Maria é carente, carente de pena, inclusive. Seu egoísmo necessita atrair pra si toda a sorte de atenção, motivo pelo qual se sente inferior, porém acaba atraindo um mar de frustrações, afinal nem toda hora as pessoas querem dar atenção a Maria. Ontem foi um desses dias. Simplesmente eu não estava com paciência para seus mimos e suas indiretas mal acabadas. Não sou uma de suas gatas e sustento que nem elas a suportam. Quer alfinetar? Procure uma costureira. Eu faço cá as minhas remendas nos meus paninhos, mas nenhum deles será pano quente para sua inferioridade que você, e só você, Maria, enxerga em si mesma.

No meio daquele diálogo ácido, quase me esqueço de que estou trabalhando em um órgão público. Não tinha motivos para replicar os desatinos de Maria, mas não sei por que motivo uma vontade louca me impelia a retrucar tudo, em absoluto, o que Maria cuspia matematicamente por sua boca. E mesmo assim, por mais que fosse mais são e adequado ignorar a sua ignorância, alguma coisa me impulsionava a contestar. Simplesmente uma palavra, talvez, uma frase que não saía como deveria. Quem sabe uma expressão, um conselho, um sopro que não conseguia proferir.

Por isso eu tentei, de todas as maneiras, traduzir todo esse agouro em outras palavras, mais suaves, mais elucidativas. Mas a vontade de mijar continuava e não consegui, até agora há pouco, descobrir o que tanto eu precisava dizer a Maria. Foi quando me veio a idéia de blogar no lugar mais apropriado, meu diário eletrônico, o Sai na Urina. Foi ele o meu refúgio, através do qual eu pude encontrar as melhores e mais adequadas palavras para dizer a Maria, que tanto estavam guardadas. Por isso, Maria, antes que eu me esqueça, com todo o respeito: Vai pra puta que te pariu!

Tangerinas Parte II - imagens do espetáculo

É com muita alegria - e atraso - que venho compartilhar com meus amigos internautas uma pequena parte do espetáculo "Tangerinas" que foi divulgado neste mesmo blog e apresentado no SESC Engenho de Dentro no dia 25/07, no qual atuei junto com mais seis amigos da Oficina Escola Nossa Senhora do Teatro Fernanda Montenegro. "Tangerinas" é, para mim, a marca do meu retorno aos palcos, e um presente que ele próprio, o Teatro, me deu. Espero que tenha sido com o intuito de fazer com que eu prove o seu sabor ácido e me delicie por entre seus gomos e caroços. De antemão, aos que não puderam assistir, aguardem... talvez uma boa notícia para vocês possa surgir. Então, com vocês, TANGERINAS!



segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tangerinas

Convido a todos e todas para a 3ª Mostra de Teatro Minimalista no SESC Engenho de Dentro - Rio de Janeiro.

A mostra acontecerá nos dias 24 e 25 de julho e custará apenas R$ 10,00 para cada dia de evento, e consistirá na apresentação de diversas esquetes dos alunos da Oficina Escola Nossa Senhora do Teatro Fernanda Montenegro, sob direção de Ricado Andrade Vassílievitch.

Eu me apresentarei às 19h45 do sábado, dia 25/07, com a esquete TANGERINAS, e terei a honra de contar com sua presença na platéia. Quem se interessar, os convites podem ser adquiridos comigo, pessoalmente, ou diretamente no SESC Engenho de Dentro COM ANTECEDÊNCIA. São poucos lugares! Segue abaixo um dos cartazes de divulgação de nossa esquete!

Merda!