sábado, 15 de agosto de 2009

Eu, ateu

Poesia publicada em primeira-mão no Sai na Urina, "Eu, ateu" é uma reflexão sobre a busca do homem pelo divino. Trata-se de um questionamento - logicamente muito baseado na minha experiência pessoal - acerca da relação de troca e de barganha forjada entre a humanidade e o seu deus. A letra minúscula é intensional e, ao mesmo tempo, traduz a crítica que todo o poema faz a essa projeção que o homem ousou chamar de Senhor. Sem grandes pretensões, é, enfim, um protesto em forma de verso e urina contra o que nós fizemos dEle.

Eu, ateu
2009

O que espero deste que oferece
Se buscando ajuda, desespero?
Se buscando um amigo, austero?
Se buscando por calma, o berro?
Desse que, asteuro, oferece desespero e berro
Diz pra mim, o que espero? Qual o meu erro
Se não é esse deus que quero?

O que pensar deste que forma
Se buscando completude, vazio?
Se buscando graça, castigo?
Se buscando a mim, inimigo?
Desse que forma vazio, castigo e inimigo
Diz pra mim, o que pensar? Qual meu erro
Se não é esse deus que sigo?

O que tenho neste que professa
Se buscando perdão, sentença?
Se buscando a cura, doença?
Se buscando justiça, vingança?
Desse que professa sentença, doença e vingança
Diz pra mim, o que eu tenho? Qual meu erro
Se esse deus não me alcança?

O que vejo neste que se mostra
Se buscando o Pai, o padrasto?
Se buscando o Filho, o carrasco?
Se buscando o Espírito, o mágico?
Desse que se mostra mágico, carrasco e padrasto
Diz pra mim, o que eu vejo? Qual o meu erro
Se nesse deus encontro asco?

O que recebo deste que barganha
Se buscando verdade, vergonha?
Se buscando palavra, peçonha?
Se buscando a paz, insônia?
Desse que barganha insônia, peçonha e vergonha
Diz pra mim, o que recebo? Qual meu erro
Se a esse deus me contraponho?

Em que acredito neste que ganha
Se buscando respeito, a fama?
Se buscando ética, trama?
Se buscando caráter, lama?
Desse que trama lama e ganha fama
Diz pra mim, em que acredito? Qual meu erro
Se não é esse deus quem ama?

O que adorar neste que dá
Se buscando o alvo, a ira
Se buscando a justiça, a mentira
Se buscando socorro, atira
Neste que atira a ira e a mentira
Diz pra mim, o que adorar? Qual o meu erro
Se esse deus não me inspira?

O que anseio deste que quer
Se buscando o pão, dinheiro?
Se buscando abrigo, o cheio?
Se buscando o interior, o meio?
Deste que quer, no meio, estar cheio de dinheiro,
Diz pra mim, o que anseio? Qual meu erro
Se não é nesse deus que creio?

Leo Rossetti
15/08/2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Santa Maria Imaculada das Dores das Frustrações


O que faço nesta postagem não é nenhuma mensagem de cunho religioso, apesar do título. É apenas o fruto das necessidades fisiológicas que temos de colocar para fora tudo aquilo que incomoda, perturba, fere: quero desabafar! É o que neste blog chamamos de "Sair na Urina". E tem coisas que precisam sair na urina mesmo, porque se ficarem dentro do corpo acabam fazendo mal à alma.

O que eu quero tanto jogar na privada? Se pudesse, jogaria agora mesmo a minha colega de trabalho. Mas, não podendo fazer - sob o risco de entupir o recipiente - prefiro lançar ao esgoto aquilo que faz dela um ser ímpar: a sua vocação para mártir. Maria é minha amiga há anos, mas há meses vem amargando as dores de suas próprias frustrações com o casamento. O que eu tenho com isso, senão o sentimento de solidariedade de tentar ajudar? Nada. Mas ontem Maria resolveu aprontar comigo... sentindo-se incomodada, alegando estar sendo subjugada e inferiorizada, além de mal recompensada por não ter sido comunicada dos acordos de trabalho que lhe não diziam respeito nem interferiam no seu trabalho, resolveu travar uma discussão fútil - tal como a própria - sobre o fato de eu não reconhecer os meus erros. Ora, Maria, por que cargas d'água eu deveria te avisar que não trabalharia na segunda-feira e, ao invés disso, nosso colega o faria em meu lugar? Por acaso você é a líder do seu setor de trabalho? Por acaso eu trabalho no seu setor de trabalho? Por acaso você trabalharia junto comigo no horário em que eu deveria comparecer ao meu setor de trabalho? Não, Maria, você simplesmente iria embora. Mas por que se incomodar tanto, Santa Maria Imaculada das Dores das Frustrações, com os outros e com o que os outros fazem? Maria, você é uma mulher linda, para não dizer "gostosa", já percebeu? Quantas vezes você se desfez das pessoas, ao passo que elas estiveram sempre ali para te ajudar? Por acaso foi você que subiu ao calvário da Direção, foi? Não, não foi.

O que explica o incômodo de Maria? Eu tenho um palpite. Poderia arriscar e dizer que é o casamento falido, mas não é. Maria sempre foi assim, desde antes de seu casamento. Maria é carente, carente de pena, inclusive. Seu egoísmo necessita atrair pra si toda a sorte de atenção, motivo pelo qual se sente inferior, porém acaba atraindo um mar de frustrações, afinal nem toda hora as pessoas querem dar atenção a Maria. Ontem foi um desses dias. Simplesmente eu não estava com paciência para seus mimos e suas indiretas mal acabadas. Não sou uma de suas gatas e sustento que nem elas a suportam. Quer alfinetar? Procure uma costureira. Eu faço cá as minhas remendas nos meus paninhos, mas nenhum deles será pano quente para sua inferioridade que você, e só você, Maria, enxerga em si mesma.

No meio daquele diálogo ácido, quase me esqueço de que estou trabalhando em um órgão público. Não tinha motivos para replicar os desatinos de Maria, mas não sei por que motivo uma vontade louca me impelia a retrucar tudo, em absoluto, o que Maria cuspia matematicamente por sua boca. E mesmo assim, por mais que fosse mais são e adequado ignorar a sua ignorância, alguma coisa me impulsionava a contestar. Simplesmente uma palavra, talvez, uma frase que não saía como deveria. Quem sabe uma expressão, um conselho, um sopro que não conseguia proferir.

Por isso eu tentei, de todas as maneiras, traduzir todo esse agouro em outras palavras, mais suaves, mais elucidativas. Mas a vontade de mijar continuava e não consegui, até agora há pouco, descobrir o que tanto eu precisava dizer a Maria. Foi quando me veio a idéia de blogar no lugar mais apropriado, meu diário eletrônico, o Sai na Urina. Foi ele o meu refúgio, através do qual eu pude encontrar as melhores e mais adequadas palavras para dizer a Maria, que tanto estavam guardadas. Por isso, Maria, antes que eu me esqueça, com todo o respeito: Vai pra puta que te pariu!

Tangerinas Parte II - imagens do espetáculo

É com muita alegria - e atraso - que venho compartilhar com meus amigos internautas uma pequena parte do espetáculo "Tangerinas" que foi divulgado neste mesmo blog e apresentado no SESC Engenho de Dentro no dia 25/07, no qual atuei junto com mais seis amigos da Oficina Escola Nossa Senhora do Teatro Fernanda Montenegro. "Tangerinas" é, para mim, a marca do meu retorno aos palcos, e um presente que ele próprio, o Teatro, me deu. Espero que tenha sido com o intuito de fazer com que eu prove o seu sabor ácido e me delicie por entre seus gomos e caroços. De antemão, aos que não puderam assistir, aguardem... talvez uma boa notícia para vocês possa surgir. Então, com vocês, TANGERINAS!