terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Não Quero Mais


Poema escrito em uma época extremamente feliz da minha vida, uma época de muitas descobertas e muitas realizações. Não sei ao certo o que motivou escrever "Não Quero Mais", a Poesia Urinada desta semana. Lembro que ela já foi declamada em um espetáculo de teatro que apresentei chamado "Coletânea", quando eu participava do grupo Arteatro. Era a cortina entre uma esquete e outra. Lembro também do que sentia ao escrevê-la, que era a vontade de urinar em cima deste falso sentimento de paz, de segurança, de harmonia do mundo moderno. Ah, sim! Lembro-me... nesta época eu estava na faculdade, muito envolvido nas aulas de História da Idéia de Cidadania, do Prof. Marcos Alvito, grande mestre e referencial de professor. Acho que eu estava nesta época refletindo sobre a contemporaneidade, e sobre todo esse sistema capitalista, que diz querer a paz, mas alimentando a guerra. Exatamente, é esse paradoxo social, que semeia a riqueza com as sementes da miséria, que me motivou a escrever este texto, como vocês podem conferir a seguir.

NÃO QUERO MAIS
2004



Dizem que querem a paz
A paz, essa coisa estranha,
De estranheza tamanha
Que o homem não viu jamais!
Por essa paz se barganha
Com ela tanto se sonha
Perdendo, inclusive, a vergonha
De agirem feito animais!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!
















Dizem que querem a paz
Ai de quem discorde dela!
Arma-se e logo se faz
Guerra em nome da paz,
Paz em nome da guerra!
Paz enquanto pastiche
Em nome dela, a querela,
Como se fosse fetiche!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!













Dizem que querem a paz
Acho que querem bem mais
Querem bem mais que o mundo
Querem mais do que se pode
Lutam com fogo a fundo
Tanto que o mundo explode
Com toda a sua gente junto!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!















Dizem que querem a paz
Mas uma paz que impera
Só quando a vida morre
E o sangue dos corpos berra!
Quando o cadáver se enterra
Dorme, finalmente, jaz
É que encontra a paz!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!

















Dizem que querem a paz
Mas uma que vem da guerra
Quem ousa dizer aos pais
Que aquele filho querido
Sob sete palmos de terra
Consegue descansar em paz?
A paz já não faz sentido
Num jazigo quando o filho jaz!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!















Dizem que querem a paz
Acho que querem demais
E o querer não se pratica
Nem a paz nunca se faz!
A paz – tolos – implica
Em reconhecer que Guernica
Não deve acontecer jamais!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!


















Se isso é um mundo de paz
O que seria de nós,
Pobres seres mortais,
Se de guerra ele fosse?
Se isso é um mundo de iguais
Imagina o que seria
Das gentes, se por um dia
Fosse de diferentes!
















Torres que destroem naves
Naves que destroem torres
Como se o mundo não fosse
Uma aquarela de gente
Sem hierarquia de cores
Iguais de tão diferentes!
Se isso é o que chamam de paz,
Essa eu não quero mais!















Dizem que querem a paz
Eu digo que quero um mundo
Humanamente profundo
Utópico, quiçá, demais!
Possível, todavia, afirmo!
O mundo que eu invento
Não é um mundo de vento
Mas um que nos é capaz
Ah, muito menos cretino!
Ah, bem menos violento!
O ser humano é quem faz
Seu mundo, sua paz, seu destino
Cabe a nós decidirmos
Andar pra frente ou pra trás
Querer os céus ou a terra
Viver no caos ou no cais
Em nome da paz ou da guerra!
O mundo em que nós vivemos
É esse com essa paz
Esse com esse vento!
Se isso é o que chamam de mundo
Prefiro o que eu invento
O mundo de nosso tempo
Esse eu não quero mais!

Léo Rosetti

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O poliglota, a barata e a velhinha americana


Aproveitando a onda de inspiração que 2000inove tem trazido, estou criando também uma seção de humor no Sai na Urina: "Quentes & Rapidinhas"! São piadas curtas ou charges de humor para descontrair entre uma leitura e outra. Também é uma oportunidade para mostrar que não é necessário o desrespeito para fazer piada direito. Espero que gostem!



Dando a primeira rapidinha:

No enterro de um ilustre poliglota, o repórter pergunta para a viúva:

- Quais as últimas palavras do falecido?

- Em que língua?


Dando a segunda rapidinha:

A enfermeira entrou correndo, desesperada, no consultório do doutor Epitácio:

- Doutor, doutor, tem uma barata enorme na sala de espera!

- É convênio ou particular?


Dando a terceira rapidinha:


O professor de estatística estava dando exemplos de probabilidades e análises em uma faculdade americana:

- Imaginem vocês que, na Flórida, uma velhinha é atropelada a cada três horas!

Suspira uma garo
ta na primeira fila:

- Tadinha!!!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Tributo ao Pecado


Aos que aguardavam a primeira postagem do ano novo, gostaria de dizer que decidi inaugurar 2009 no Sai na Urina com uma novidade. A bem da verdade, não se trata de uma novidade propriamente dita. O que resolvi postar no blog é parte de minha antologia poética, acumulada ao longo de alguns anos de muitas reflexões, crises, êxtases, solidão, felicidade, prazer... Minhas poesias! Portanto, periodicamente novas (ou melhor, antigas) poesias serão postadas no blog e, porque este blog é um anti-espelho da minha vida, em todas as suas facetas, não posso deixar meu lado historiador de fora. Os textos urinados serão acompanhados de um breve histórico e uma análise pessoal do contexto em que foram produzidos. Será que um dia isso dá um livro? Vale a pena ensaiar!

O texto de hoje, a poesia inaugural, não tem motivo específico para sê-lo. Simplesmente porque é um dos poemas dos quais mais gosto é a razão básica de iniciar com ele a Seção Poesias Urinadas. Trata-se de "Tributo ao Pecado", um poema escrito com bastante fúria e indignação, motivado por um episódio que aconteceu durante um relacionamento que tive em 2005. Imaginem que após uma manifestação singela de afeto dentro de um ônibus, uma senhora - dessas crentecas fundo-de-quintal - decidiu entregar SOMENTE PARA NÓS DOIS um panfleto acompanhado de um discurso barato de que Jesus nos amava. Ora, não duvido do amor de Deus, e nem é isso o que estava em questão naquele momento. O que a velha quis dizer era que, a despeito daquela manifestação de carinho, existia uma salvação para nossa alma, mergulhada no pecado que ela, e somente ela, percebia e com o qual estava incomodada. Eu poderia descrever por linhas e linhas o ocorrido, mas prefiro encerrar por aqui e deixar com vocês o sabor único e úrico de "Tributo ao Pecado":



Tributo ao Pecado

2005


Com permissão do Criador
Seja Ele quem Ele for
Pois por Amor antes criou
O Paraíso!
Venho declarar
Minha vontade de gozar
Da liberdade de provar
Deste teu fruto...
Juro que eu te uso
Traga o teu abuso
Vire a serpente
Vem que eu te lambuzo...
Nosso Paraíso é quente
Ferve com o calor!











Quero comer da tua cor
E embriagado no sabor
Te seduzir com o suor
Do meu desejo!
Quero te aquecer
Com beijos no anoitecer
Sentir teu corpo amanhecer
No meu divã...
Ser o teu café
E te beber pela manhã
Ter a minha boca
Na tua maçã...
Ser teu trono, o teu dono
Teu ídolo, o teu fã...










Os meus desejos vão falar
Deixa a minha língua te contar
Nas ondas que formam o mar
Do teu ouvido...
Deixa o teu corpo
Se abrir de encontro ao meu
E a minha pele te rasgar
Pelo avesso...
Sou o teu devasso
Sou o teu travesso
Dentro dos teus braços
Teu a qualquer preço
Fruto dos teus passos
Eu me desconheço...













E ao sentir as tuas mãos
Pelos meus pêlos tão pagãos
E os teus dedos darem nós
Nos meus cabelos
Quase vou aos Céus
Me agarrando aos olhos teus
Como se eles, com certeza,
Fossem meus...
Deixa que o mundo
Se flagele de inveja
Deixa que ele veja
Enquanto você me beija...
E que a nossa história seja
Daquelas mais bonitas!













E se acaso nos vier
Na condução uma mulher
Postulando com sua fé
A nossa vida
Transformando as cores
Do prazer a dois em dores
E fazendo dos amantes
Pecadores...
Diga que é doença
Sua fé ensandecida!
E que a igualdade
É não mais que a diferença...
E que a nossa sentença
É a felicidade!...

Léo Rosetti