sábado, 28 de março de 2009

A Cidade Intransitável, São João de Meriti, RJ.

Caros colegas internautas e blogueiros,

Quero compartilhar com vocês uma sensação esplêndida que aconteceu comigo esta semana que passou.
Como vocês sabem, há alguns meses faço o caminho Caxias-São João de Meriti com uma certa frequência! rs... em um determinado trecho, o descaso público, a incompetência da prefeitura e, de quebra, a água das chuvas de verão, juntos, contribuíram para que uma das principais artérias da cidade se tornasse intransitável. Dezenas, senão centenas, de buracos enormes tomaram conta de uma avenida cujo espaço virou palco de verdadeiros shows de malabarismo a quatro rodas.

Indignado com a situação, resolvi fotografar a situação drástica e enviei para o jornal O Globo, para a coluna Eu-Repórter e... não é que publicaram? Mas essa não é a melhor parte! O melhor é que no dia seguinte a prefeitura estava exatamente no local fotografado com uma mega-operação tapa-buracos. Asfaltaram a localidade e, por tempo indeterminado, disfarçaram a timidez de seu trabalho medíocre. Se foi por conta da publicidade que ganhou o fato ou não, eu não sei. Fato é que isso me deixou bastante entusiasmado, empolgado e esperançoso, quase certo de que neste país, neste estado, nesta(s) cidade(s), a voz do povo ainda pode ser a voz de Deus.

Segue abaixo reportagem no site dO Globo. Para quem quiser conferir a matéria diretamente no site, clique no título ou nas fotos.

Mar de buracos no bairro Jardim Sumaré

Fotos enviadas pelo leitor Leandro Rosetti de Almeida

"A cidade instransitável", este deveria ser o título de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A cidade, que já é exemplo do descaso público e da falta de compromisso de seus governantes, padeceu neste verão com as chuvas e seus efeitos sobre o seu quase-asfalto. O resultado são centenas de crateras abertas em vias públicas, em rotas importantes de ônibus intermunicipais, de acesso a shopping centers, postos de saúde e escolas. É impossível ir de um extremo ao outro da cidade sem passar pelo caos asfáltico que danifica dezenas de automóveis todos os dias, que acumula água da chuva no solo, e colabora para a falta de segurança aos motoristas, que são obrigados a praticamente parar o automóvel e realizarem verdadeiros malabarismos em quatro rodas, sob a escuridão de ruas pouco ou não-iluminadas e inseguras. As imagens desta reportagem denunciam o descaso público com a cidade e flagram ônibus e automóveis disputando uma esquina nas proximidades do bairro Jardim Sumaré, no sub-bairro "Trezentos", na Avenida Miguel Couto, onde os buracos e os acidentes já fazem parte da composição da paisagem de uma avenida que liga São João de Meriti ao centro da cidade de Duque de Caxias. O destaque vai para uma kombi que, tentando driblar a enchente ocasionada pelas chuvas do dia anterior, tentou subir na calçada e acabou caindo, em pleno domingo, Dia Mundial da Água, em uma cratera gigantesca, de onde não conseguiu mais sair até, pelo menos, a madrugada do dia 23/03/09.

Fonte: Jornal O Globo


Grande abraço e bom fim de semana a todos.

Leo Rosetti

quinta-feira, 12 de março de 2009

À Santa Madre Igreja (abaixo-assinado)

À Santa Madre Igreja

"Se para merecer os sacramentos católicos tenho que concordar com a morte de uma criança de nove anos, grávida por estupro, porque a Igreja Católica acha que é crime espiritual o aborto para salvar sua vida, mesmo que ela morra com as crianças que espera; e, também, com a excomunhão arbitrária daqueles que o praticaram para salvá-la; se tenho que assistir os padres pedófilos serem absolvidos pelo silêncio do Vaticano, e nada, absolutamente nada acontecer com eles; se tenho que concordar que aborto seja um fato pior do que o estupro, mais “pecaminoso”... ENTÃO, ME EXCOMUNGUE "


Para assinar o abaixo assinado mande uma mensagem
com
seu NOME e E-MAIL para
entaomeex
comungue@gmail.com


Eu já enviei o meu e-mail! Se você concorda com essa bandeira, faça também sua parte! Se a gente não se movimenta, cai no poder da inércia e da indiferença. O que será da Igreja se todos os seus fiéis começarem a pedir a excomunhão???

Mais do que religioso, este abaixo-assinado é um ato de cidadania! Pense nisso.

Maiores informações: www.emdiacomacidadania.com.br

quarta-feira, 11 de março de 2009

No Brasil, o perigo está no 'bem'

Texto de Arnaldo Jabor, publicado no Jornal "O Globo" em 10 de março de 2009.

Não sou fã deste cronista, mas esta crônica, em especial, merece destaque pela relevância e pertinência com a qual trata deste assunto que tanto nos deixou, a todos nós brasileiros, indignados e envergonhados.


No Brasil, o perigo está no 'bem'

Arnaldo Jabor

Lá do fundo da Idade Média o arcebispo de Olinda e Recife, Jose Ribeiro Sobrinho excomungou uma família e os médicos que fizeram um aborto em uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos. E o estranho ser togado de arcebispo ainda boquejou: "A Lei de Deus está acima da Lei dos Homens." Ou seja, a Santa Joana D'Arc foi queimada viva pela lei de Deus. A inquisição foi Lei de Deus, com milhares de horrendas torturas feitas sob as bênçãos de um Deus cruel? Espantosamente, o Vaticano, nos últimos dias, apoiou a decisão desse arcebispo

medieval de Olinda e Recife. Isso me lembra outro prelado idiota que uma vez excomungou um juiz que autorizou o aborto de um feto descerebrado e falou sobre o estupro: "Os filhos de mulheres estupradas devem nascer e serem educados pela Igreja, como órfãos infelicitados." Talvez fosse essa a pior desgraça, o sinistro destino para uma criança: "Quem é você?" "Eu sou o filho do Motoboy assassino, educado pelo arcebispo Jose Ribeiro Sobrinho."

É espantoso o descompasso da Igreja Católica com os tempos atuais, justamente quando a História está de novo tão cruel, quando nós precisamos tanto de doçura, tolerância, que não é dada por este papa Bento XVI, de olhos frios e inquisitoriais. Ele foi vacilante com o bispo maluco que negou o Holocausto, como sendo um lero-lero de judeus, foi evasivo com os pedófilos religiosos da América, é contra os anticoncepcionais, contra as homossexuais, contra tudo. Daí o sucesso dos canalhas que inventaram os Bancos de Dízimos e os supermercados da Fé.

No mundo inteiro há uma reviravolta ética, um maniqueísmo ao avesso, um cinismo que nos habitua ao inaceitável. Bush, a besta quadrada do apocalipse, jogou o mundo no caos, em nome de Deus. Enquanto isso, em nosso mundinho brasileiro, na aliança do governo Lula com os mais nefastos canalhas, vemos uma inversão do mal em bem. O bem do Brasil (leia-se Lula) tem de passar pela aliança com os escroques para atingir um bem futuro de uma sociedade mais justa (leia-se 2010). Aliou-se ao PMDB - o mal da hora -, na sua maioria filhos do pior patrimonialismo nordestino, essa pasta feita de bigodes, cabelos pintados, focinhos vorazes, gargalhadas boçais e salivantes, inimigos antigos se beijando. Pode até ser que isso possa ser um bem a longo prazo alertando-nos para o óbvio: é preciso reformar a política no País.

Como se sentem, diante dessa aliança, os intelectuais que tanto apoiaram o PT, os bondosos de carteirinha, os cafetões da miséria, os santos oportunistas? Pela lógica "revolucionária", eles não justificavam todas as sacanagens pela utopia de um futuro, por uma pureza maior herdada do socialismo?

Na época da Guerra Fria era mole. Contra todas as evidências (Hungria em 56, Praga em 68), o mal era o capitalismo e o bem, o socialismo. Agora, com a crise, está de volta este simplismo criminoso. Aquele picareta exibicionista do Slavoj Zizek já está inventando um stalinismo renovado, como vereda para a verdade luminosa. Tentamos inventar um mal separado do bem, mas está tudo misturado.

E essa bolha maldita que enriqueceu o mundo em dez anos e depois derrubou tudo? O bem financeiro virou o mal? Está difícil entender. Durante a ditadura, éramos o "bem". O mal eram os milicos. Acabou a dita e as "vítimas" (dela) pilharam o Estado.

O bem está virando um luxo e o mal é quase uma necessidade social. Sem participar um pouco do mal, não conseguimos viver. Como ser feliz olhando as crianças famintas? Temos de fechar os olhos. A felicidade é uma virtude excludente. Ser feliz é não ver. O mal está virando um mecanismo de defesa. Quem é o mal: o assaltante faminto ou o assaltado rico? Ou nenhum dos dois? Como praticar o bem? Apenas se horrorizando com o mal? O que é o bem hoje? É lamentar tristemente uma impotência, é um negror melancólico?

O Mal é sempre o outro. Ninguém diz, de fronte alta: "Eu sou o mal!" Ou: "Muito prazer, Demônio de Almeida."

Até o homem-bomba se acha o bem, pois sua missão é destruir a modernidade, e para a razão da tecnociência eles são o mal porque incompreensíveis. O mal no mundo hoje é o "incompreensível".

Nem um "bem" tradicional se sustenta mais, vejam o arcebispo excomungante e o papa burocrático.

Todo pensamento aspira à totalidade. O bem é um desejo de harmonia, de Uno, de totalidade ou o bem é suportar heroicamente o incontrolável, a falta de esperança, a impotência ?democrática??

Hoje, com a queda das utopias, a razão tenta se adaptar ao absurdo pós-moderno. Mas, ao denunciar o Mal, vivemos dele. Eu mesmo ganho a vida denunciando o que acho "mal". Quem controla o mal? A verdade é que o mal está entranhado na matéria profunda do mundo. A verdade é que fomos construídos nessa dialética louca entre tragédia e harmonia, entre guerra e paz e isso é incontrolável.

Muitas vezes na história o "bem" foi devastador. Nietzsche escreveu em sua obsessão de libertar o homem: "Foram os espíritos fortes e os espíritos malignos, os mais fortes e os mais malignos, que obrigaram a natureza a fazer mais progressos." (in Gaia Ciência).

No Brasil, o mal não é épico, como falou Nietzsche, referindo-se, claro, à solidez estúpida da metafísica e da religião. No Brasil, o que nos assola é o pequeno mal, enquistado nos estamentos, nos aparelhos sutis do Estado, nos seculares dogmas jurídicos, nos crimes que são lei. O mal aqui está nos pequenos psicopatas que, quietinhos, nos roem a vida.

O mal do Brasil não está na infinita crueldade dos torturadores ou das elites sangrentas; está mais na sua cordialidade. Aqui, o perigo é o Bem.