sexta-feira, 8 de abril de 2011

Assassino de Realengo: uma história cristã - por Renato Hoffmann


E de repente estava diante de um “pedaço de carta”, lia aquelas palavras como uma navalha penetrando em minha carne, rasgando... Atônito!

Tenho dois sobrinhos e não suportei o fato de imaginá-los numa situação desesperadora e, então, de súbito, voltei-me ao jovem; àquelas palavras, todo seu desespero, toda sua agressividade.

A sociedade se encontra passada, não há explicações... Talvez, antes, algo que acontecia nas terras de cima, lá no norte das Américas, agora, logo ali, no Rio de Janeiro! Aqui em baixo, próximo das nossas casas, perto dos nossos parentes; dos nossos filhos, sobrinhos, netos, amigos, amantes, sim, nas nossas escolas!

Ouvir dizer, na fila do banco, que aquele moço deveria ser enterrado com o capeta! Uma lagrima caiu de meus olhos, lembrei-me da carta. Poucas coisas nessa vida tem a capacidade de me impressionar, mas, essa carta... Puxa vida!

Sabe, já escrevi cartas e, em muitas delas, uma preocupação me movia: expressar o que se passava dentro do meu coração, na minha alma. Como ficar indiferente àquele pedaço de texto? Em uma tragédia, geralmente, as pessoas se indignam contra a aparente causa, o desafeto imediato: “aquele assassino, monstruoso!”, mas há uma carta!

Sim, um pedido de perdão, um grito de socorro, um desejo de alento: “Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu”.

Cada palavra um punhal, mas não de um cruel assassino, o assassino não é ele! E não se estarreça com o que digo. Wellington não tinha antecedentes criminais, ele é tão vítima quanto às vítimas dessa tragédia. Vítima de algo que acontece no Brasil todos os dias, vítima de todos os domingos, vítima de programações de televisão, nas madrugadas, ou nos sábados pela manhã. Vítima da pureza, da santidade, da moral exacerbada, da hipocrisia dos falastrões: vítima da RELIGIÃO, do fundamentalismo, da esperança da ressurreição, de um Cristo justiceiro, de um Deus irado na justiça despótica, severo.

Alguém anunciou: “ele era muçulmano.”. Ei, pera lá! Muçulmano que acredita na ressurreição dos mortos, na segunda vinda do Cristo? Isso é coisa de cristão! Daqueles que passam o sábado ouvindo dizer da vitória de Cristo! Ou que passam as madrugadas buscando com quem falar; para alguém escutar!

Wellington foi vítima de um sistema religioso perverso, de preconceitos contra o próximo, de preconceitos contra si mesmo, preconceitos que ele adquiriu e, talvez, se pelo menos ele tivesse sua mãe por perto... Dela sentiu falta, pediu perdão, mas continuou, em nome de seu preconceito, vitimar os outros, como dele foi vítima. Não havia saídas... não havia escape! Ele já estava morto... Vitoriosos em Cristos mataram sua alma, o show da fé se transformou no circo de horrores, um pesadelo que se sonha acordado. Ele até quis falar, mas, como de praxe, fingiam que o escutavam, enquanto mais ódio e justiça de Deus eram colocados no seu coração. Mas, ele ainda pediu para que seu corpo fosse preservado puro, na esperança, de ainda, encontrar-se, na glória, diante do trono!

Há quem diga que isso foi alvo de possessão demoníaca! Ah Nicodemos! Bem que Jesus disse: "você tem que nascer de novo, rapaz!"

Essas são as marcas imediatas do que se conhece do fundamentalismo religioso, mas e as marcas que não são visíveis? Aquelas que ficam na alma? Deus tenha misericórdia de nós!

Por: Renato Hoffmann
Fonte: www.gospelgay.blogspot.com

8 comentários:

  1. Gostei dos seus argumentos. Tente dize-los para as mães que perderam suas filhas, para os familiares que estão aos prantos enquanto você escreve esse texto incoerente de opnião equivocada. Se ao menos estivéssemos livres deste mal que é a religião...

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  2. Nossa, texto emocionante, cara, parabéns!

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  3. André Russo Presley9 de abril de 2011 às 00:35

    Gostei dos seus argumentos e concordo, pois se ele tivesse sido adotado pelos seus vizinhos e conhecidos, com certeza ele poderia ter sido uma pessoa melhor. A fé cega, todas as rejeições e dilemas dele foram fundamentais para a construção de ser perdido em seu mundo e preso a uma fantasia surreal, que depois da morte da mãe se aprofundou mais... Pessoas como Wellington precisam de atenção constante, para que sejam aproximadas do mundo real, seja através de atenção, amparo médico, ocupação profissional... Ele teve o fim que um assassino brutal recebe por tamanha violência, matar crianças é algo desumano e surreal.... Mas depois da raiva, lembremos que ele também foi vítima, e devemos orar por tantas vitimas perdidas, assim como ele e as pessoas que sofrem dos mesmos dilemas....

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  4. Muito bom o artigo, valeu. E, realmente, que tristeza, que dor, que desespero expressos ali. E devidamente passados adiante, reproduzidos, multiplicados, como costuma acontecer. :-( http://bit.ly/hOWwV2

    Grande abraço!

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  5. Muito bom o artigo, valeu. E, realmente, que tristeza, que dor, que desespero expressos ali. E devidamente passados adiante, reproduzidos, multiplicados, como costuma acontecer. :-( http://bit.ly/hOWwV2

    Grande abraço!

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  6. O fato da mãe biológica ser esquizofrênica é irrelevante, né? Ah, tá.

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  7. O bom desse Wellington é que ele serve ao propósito do freguês: viciado em games violentos, vítima de bullying, fanático religioso, filho adotado, mãe esquizofrênica... Basta pegar o motivo condizente com seu argumento que tudo se encaixa. Perfeito.

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  8. Olha! Seu comentário sobre a dor dessas pessoas é até bom, mas vim falar que esse Wellington era cristão? uma criminoso que matou 13 crianças ser cristão? Acho essa parte se seu comentário preconceituoso com a religião! Nunca ouvi nem vi nenhum bispo, pastor ou qualquer membro de igj envangélica, neopetencostal, petencostal e etc nenhuma declarar morte ou violência e até que eu saiba esse criminoso nunca assumiu nenhumna religião ou crença, acho até que vc acredita muito em mídia e tv.
    É o que eu acho de seu comentário,
    Vlw.

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