Esses dias eu me deparei com uma situação no mínimo emblemática. Isto porque, penso eu, as pessoas se chocaram com as coisas que disse sobre o "Descarte". Quando eu digo "pessoas" é apenas pretexto para se referir no geral a uma no específico. Mas vamos lá. O que tanto chocou no meu discurso?
Uma vez me disseram que eu trato das coisas como "descartáveis", e eu fiquei me perguntando por quê. Queria entender essa visão que pairava sobre mim. De fato, aos poucos fui compreendendo um pouco mais sobre o meu eu, e me chocando às vezes com algum lado muito superficial e fútil de mim mesmo... Entretanto, hoje faço uma outra leitura e entendo sob um outro prisma o que seria "descartar".
Vamos ao Aurélio! Descartar é "rejeitar (a carta de baralho que não serve); jogar fora após o uso; livrar-se de pessoa ou coisa importuna", como a urina, por exemplo, que sai simplesmente porque já não serve mais para o corpo (que não me leiam os urinoterapeutas!). Automaticamente me perceberam como pela segunda definição. Talvez seja, mas há outras formas de se pensar a questão.
Penso que uma das maiores dificuldades do ser humano, sobretudo dos brasileiros, é a capacidade de escolher. Nosso povo é um povo tradicional, que gosta do tradicional, um povo extremamente marcado por símbolos, ícones, simpatias, apetrechos e tudo o mais. A gente se apega aos detalhes, aos papeizinhos de bala, às cartas de amor que escrevemos ou que escreveram pra gente, ao primeiro presente, ao primeiro sutiã, ao primeiro tudo!!! Quantos de nós não guardamos ainda as primeiras lembranças da adolescência, as roupas de criança, os brinquedos... é muito difícil nos livrarmos do nosso passado material, não é verdade? Na verdade nem sei se devemos. Eu mesmo tenho coleções de lembranças materiais no meu quarto: de fotos a adereços de carnaval, de livros a cartões de natal, de notas fiscais a boletins do Ensino Fundamental! Quanta gente, por outro lado, também não carece dos livros que guardamos, quantas crianças também não precisam dos brinquedos com os quais não brincamos mais? Mas nosso medo de nos livrarmos do material acaba prevalecendo, mascarando o medo de perdermos aquilo que ele representa. Buscamos eternizar através do material um sentimento ou uma experiência que jamais se repetirá. Experiência só é experiência se for diferente. Do contrário, é mesmice.
Se é difícil nos livrarmos do material, daquilo que se deteriora à simples vontade humana (de rasgar, queimar, de levar ao lixo ou doar a outrem), imagine o quão difícil é se livrar do passado imaterial não-produtivo! Quando nós escolhemos o novo, quando optamos por um caminho, devemos ter consciência que deixamos para trás outros caminhos possíveis, outras possibilidades, e que a escolha NECESSARIAMENTE implica no descarte. Por este ângulo, "descartar" é tão importante quanto escolher. Descartar implica em selecionar, em deixar para trás aquilo que já não mais é construtivo, e seguir o rumo em busca do melhor, do sonho, da felicidade. A gente se apega aos caminhos antigos com medo de não alcançar os novos, porque nos falta sonhar. Nós, brasileiros, somos pouco acostumados a acreditar nas nossas conquistas, nas nossas vitórias, em um Novo mais digno. Um povo tão sofrido, não é de se estranhar. Um povo com tanta euforia sufocada, com tanta expectativa frustada...
No dia-a-dia, esse temor se traduz no receio em se desligar do passado, com medo de perder o que de melhor nele houve. A consequëncia direta é acumularmos uma bagagem enorme do que chamei de "quinquilharia". E não pensem que sou um consumista fútil e fanático quando digo que muito do nosso passado é quinquilharia, porque não é por aí. Quinquilharia é aquilo que trazemos na bagagem da vida, e que não serve para absolutamente mais nada, a não ser para lembrar de um passado por um motivo qualquer. Ora, o que do passado acrescenta, que soma, que contribui, jamais será esse tipo de bagagem. O passado que constrói é, conforme as palavras de uma pessoa muito especial, "as marcas na nossa pele, o sangue que corre nas nossas veias". É ex-pe-ri-ên-cia! É uma lembrança do que tivemos, um referência para que busquemos algo melhor no futuro. Quinquilharia é querer reproduzir esse passado no futuro; é fazer igual; é eternizar a lembrança, não relegando a ela o seu devido lugar no passado; é a não-experiência; é, enfim, o retrato da dificuldade em não descartar. É pegar o "morto" do baralho e ficar com ele até o fim do jogo, até o fim da vida. Os jogos têm muito a nos ensinar... é a metáfora do jogo da Vida.
Até quando durarão nossos receios em descartar coisas, pessoas, momentos, situaçãoes, problemas? Será o medo de nos rotularem como superficiais demais, aqueles que tratam pessoa como lixo, usam e jogam fora (conforme a segunda definição do Aurélio)? Se tomarmos essa definição como única, até concordaria... mas, jamais esqueçamos, a palavrinha em questão é polissêmica, e traz um novo sentido se aplicada à nossa vida. Entendo "descartar" como o significado diametralmente oposto de "optar". É um sinônimo às avessas. É como claro e escuro, vida e morte. Não existe um sem o outro. Não descartar significa também não optar. E pessoas que não escolhem, não optam, correm o sério risco de querer abraçar o baralho todo e morrer com o "morto" na mão. Quem não escolhe o seu caminho, é levado pelos caminhos dos outros. No final, poderá ser tarde reclamar de se ter chegado no lugar não desejado, que estará longe, muito longe, da Felicidade.
Uma vez me disseram que eu trato das coisas como "descartáveis", e eu fiquei me perguntando por quê. Queria entender essa visão que pairava sobre mim. De fato, aos poucos fui compreendendo um pouco mais sobre o meu eu, e me chocando às vezes com algum lado muito superficial e fútil de mim mesmo... Entretanto, hoje faço uma outra leitura e entendo sob um outro prisma o que seria "descartar".
Vamos ao Aurélio! Descartar é "rejeitar (a carta de baralho que não serve); jogar fora após o uso; livrar-se de pessoa ou coisa importuna", como a urina, por exemplo, que sai simplesmente porque já não serve mais para o corpo (que não me leiam os urinoterapeutas!). Automaticamente me perceberam como pela segunda definição. Talvez seja, mas há outras formas de se pensar a questão.
Penso que uma das maiores dificuldades do ser humano, sobretudo dos brasileiros, é a capacidade de escolher. Nosso povo é um povo tradicional, que gosta do tradicional, um povo extremamente marcado por símbolos, ícones, simpatias, apetrechos e tudo o mais. A gente se apega aos detalhes, aos papeizinhos de bala, às cartas de amor que escrevemos ou que escreveram pra gente, ao primeiro presente, ao primeiro sutiã, ao primeiro tudo!!! Quantos de nós não guardamos ainda as primeiras lembranças da adolescência, as roupas de criança, os brinquedos... é muito difícil nos livrarmos do nosso passado material, não é verdade? Na verdade nem sei se devemos. Eu mesmo tenho coleções de lembranças materiais no meu quarto: de fotos a adereços de carnaval, de livros a cartões de natal, de notas fiscais a boletins do Ensino Fundamental! Quanta gente, por outro lado, também não carece dos livros que guardamos, quantas crianças também não precisam dos brinquedos com os quais não brincamos mais? Mas nosso medo de nos livrarmos do material acaba prevalecendo, mascarando o medo de perdermos aquilo que ele representa. Buscamos eternizar através do material um sentimento ou uma experiência que jamais se repetirá. Experiência só é experiência se for diferente. Do contrário, é mesmice.
Se é difícil nos livrarmos do material, daquilo que se deteriora à simples vontade humana (de rasgar, queimar, de levar ao lixo ou doar a outrem), imagine o quão difícil é se livrar do passado imaterial não-produtivo! Quando nós escolhemos o novo, quando optamos por um caminho, devemos ter consciência que deixamos para trás outros caminhos possíveis, outras possibilidades, e que a escolha NECESSARIAMENTE implica no descarte. Por este ângulo, "descartar" é tão importante quanto escolher. Descartar implica em selecionar, em deixar para trás aquilo que já não mais é construtivo, e seguir o rumo em busca do melhor, do sonho, da felicidade. A gente se apega aos caminhos antigos com medo de não alcançar os novos, porque nos falta sonhar. Nós, brasileiros, somos pouco acostumados a acreditar nas nossas conquistas, nas nossas vitórias, em um Novo mais digno. Um povo tão sofrido, não é de se estranhar. Um povo com tanta euforia sufocada, com tanta expectativa frustada...
No dia-a-dia, esse temor se traduz no receio em se desligar do passado, com medo de perder o que de melhor nele houve. A consequëncia direta é acumularmos uma bagagem enorme do que chamei de "quinquilharia". E não pensem que sou um consumista fútil e fanático quando digo que muito do nosso passado é quinquilharia, porque não é por aí. Quinquilharia é aquilo que trazemos na bagagem da vida, e que não serve para absolutamente mais nada, a não ser para lembrar de um passado por um motivo qualquer. Ora, o que do passado acrescenta, que soma, que contribui, jamais será esse tipo de bagagem. O passado que constrói é, conforme as palavras de uma pessoa muito especial, "as marcas na nossa pele, o sangue que corre nas nossas veias". É ex-pe-ri-ên-cia! É uma lembrança do que tivemos, um referência para que busquemos algo melhor no futuro. Quinquilharia é querer reproduzir esse passado no futuro; é fazer igual; é eternizar a lembrança, não relegando a ela o seu devido lugar no passado; é a não-experiência; é, enfim, o retrato da dificuldade em não descartar. É pegar o "morto" do baralho e ficar com ele até o fim do jogo, até o fim da vida. Os jogos têm muito a nos ensinar... é a metáfora do jogo da Vida.
Até quando durarão nossos receios em descartar coisas, pessoas, momentos, situaçãoes, problemas? Será o medo de nos rotularem como superficiais demais, aqueles que tratam pessoa como lixo, usam e jogam fora (conforme a segunda definição do Aurélio)? Se tomarmos essa definição como única, até concordaria... mas, jamais esqueçamos, a palavrinha em questão é polissêmica, e traz um novo sentido se aplicada à nossa vida. Entendo "descartar" como o significado diametralmente oposto de "optar". É um sinônimo às avessas. É como claro e escuro, vida e morte. Não existe um sem o outro. Não descartar significa também não optar. E pessoas que não escolhem, não optam, correm o sério risco de querer abraçar o baralho todo e morrer com o "morto" na mão. Quem não escolhe o seu caminho, é levado pelos caminhos dos outros. No final, poderá ser tarde reclamar de se ter chegado no lugar não desejado, que estará longe, muito longe, da Felicidade.
Infeliz do Peregrino que na longa jornada não descarta bagagem. Chegará o momento que, cansado pelo excesso de bagagem inútil, cairá, tombado pelo peso que lhe vai às costas!
ResponderExcluirprof° adorei seu blog
ResponderExcluirtudo oq vc escreveu ai eu gostei muitoo !!
Ola prof tudo bem?
ResponderExcluirAdorei muito seu blog esta super maneiro.
Amei quando postar mais me avise para eu ver.
Beijotos xauuuuuuuu
te adolo...