segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A gente não quer só comida!

Caros amigos,

A despeito de qualquer crítica que possamos ter às Paradas do Orgulho LGBT e ao movimento LGBT no Brasil, como um todo, o manifesto a seguir é digno de leitura. Peço que repassem a todos os seus amigos. Trata-se da atitude arbitrária e completamente anti-democrática, ocorrida no domingo, 11 de outubro de 2009, na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. O prefeito da cidade impediu que fosse realizada a 4ª edição do evento, oferecendo à população desculpas moralistas e relacionadas a uma suposta aliança com grupos evangélicos (argh!) da cidade. Leiam, repassem e deixem seus comentários nas reportagens sobre o cancelamento da parada nos links que seguem:

Reportagem do Jornal O Globo
Reportagem do portal G1
Comentem também no site oficial da cidade, na seção Fale com o Governo!


A gente não quer só comida!
Manifesto contra o cancelamento da Parada LGBT de Duque de Caxias

A Comunidade Betel do Rio de Janeiro, organização religiosa da qual sou membro, preparou-se hoje para militar pela Inclusão Cristã da população LGBT na cidade de Duque de Caxias, através da 4ª edição da Parada do Orgulho LGBT da cidade (que já é considerada a segunda maior do Estado, atrás da de Copacabana) e qual não foi minha surpresa ao chegar ao local! O evento estava cancelado!

A Avenida Brigadeiro Lima e Silva, onde ocorreria o evento, estava lotada. Os carros de som estavam preparados, a população em massa, concentrada. Milhares de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros reunidos, mas não puderam caminhar porque o prefeito da cidade, José Camilo Zito dos Santos, impediu o acontecimento do evento.

Ora, a fama de coronel do dito prefeito já é conhecida de velha data. Com seu discurso de cunho populista, muito mal acabado, conseguiu se eleger ano passado novamente, após um recesso de 4 anos que interrompeu seu duplo exercício na prefeitura, após os 8 anos ininterruptos em que se manteve no poder executivo da cidade. Entretanto, a resposta deste cidadão (?) ao povo que o elegeu não possui outra palavra senão TRAIÇÃO. Zito traiu o pacto que todo governante precisa ter com o seu povo. Isto porque, em uma democracia, o que é do povo é do povo! Não há líder político algum que pode impedir. E os direitos da população LGBT são algo que está sendo reivindicado pelas lésbicas, pelos gays, pelos bissexuais e transgêneros de Duque de Caxias, cidadãos e cidadãs e pagam seus impostos, muitos dos quais sem possuir o luxo e a riqueza que o seu Excelentíssimo Coronel-Mor possui. Zito dá migalhas a porcos! Zito acha que os cidadãos e cidadãs caxienses merecem não mais que ruas enfeitadas de azul e amarelo, meio-fios pintados de um mostarda sem-graça e sem sabor, pontos de ônibus redesenhados e instalados sem necessidade, asfalto, show e obra. Não, prefeito, como diz a canção, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte (...) a gente quer saída para qualquer parte (...) a gente quer bebida, diversão, balé (...) a gente quer a vida como a vida quer”. Mas a nossa vida tem sido ceifada por não poucos homofóbicos – classe da qual o senhor sem dúvida participa – que, se não atuam diretamente, apoiam a prática homofóbica, inclusive porque se omitem diante dela.

Qual o motivo para impedir a 4ª Parada LGBT de Duque de Caxias? A resposta veio ainda durante a concentração do evento: o prefeito se mancomunou com um grupo de evangélicos da cidade, os quais lhe teriam prometido aliança para sua futura candidatura ao Governo do Estado do Rio de Janeiro. E o que vem dessa corja evangelical não poderia ser algo diferente do que a condenação dos LGBT’s, não apenas ao Inferno, mas ao inferno que é viver à margem da sociedade, com seus direitos negados, alijados dos privilégios que sempre foram ostentados pelos heterossexuais (como o direito à liberdade de amar a quem quiser, o direito de beijar quem quiser, o direito de feliz, de dar carinho, de viver a vida como a vida quer...). Este motivo, contudo, não é oficial, mas é provável que tenha seu fundo de verdade, sobretudo se considerarmos a ambição do prefeito em questão. Contudo, o que há que se analisar é o pronunciamento oficial da Prefeitura, que é sobre ele que geramos os nossos argumentos e podemos nos posicionar. O prefeito impediu a Parada LGBT porque o evento causa muitos transtornos à cidade, e que os homossexuais fazem gestos obscenos em público. Em primeiro lugar, gostaria de informar a todos vocês que o atual prefeito de Duque de Caxias se elegeu e/ou se manteve no poder às custas de inúmeros shows financiados com verba pública, com artistas famosos, showmícios megalomaníacos, muitos dos quais realizados para comemorar alguma façanha, um aniversário da cidade, a reeleição, a vitória de alguma coisa importante para ele. Quantos não foram os shows de música gospel autorizados pela Prefeitura de Duque de Caxias? Por quantas vezes não tivemos nossas ruas interditadas? Uma dessas vezes foi há duas semanas atrás, quando a Prefeitura autorizou a interdição da Avenida Brigadeiro Lima e Silva, no mesmo local da Parada LGBT, para a edição de uma grande feira de automóveis, num domingo ensolarado como o do dia 11 de outubro de 2009. Entretanto, diferente da luta pelos direitos LGBT’s, o mega feirão não foi cancelado! Quanto aos gestos obscenos, informo que esta palavra é um juízo de valor, e o senhor há de explicar o que significa “obsceno”. Para o senhor, “obsceno” pode ser dois homens se beijando em público e, por mais que o senhor ache que isso escandalize, prefeito, este ato É UM DIREITO! Os demais gestos que a lei impede de serem realizados (como a prática de sexo explícito, por exemplo) não são privilégios dos LGBT’s e caso acontecessem, caberia à segurança pública da cidade impedi-los. Conheço inúmeros heterossexuais que praticam sexo publicamente em momentos os mais variados e, nem por isso, a Prefeitura deixa de promover as micaretas, os shows evangélicos, os pagodões, as festas eleitoreiras. Mas o que nós queremos, José Camilo Zito dos Santos, não é o direito de praticar sexo explícito nas ruas de Caxias, mas o direito de andarmos nas ruas da cidade, sozinhos, inclusive, sem sermos apedrejados, injuriados, machucados ou MORTOS pelo fato de sermos lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.

O cancelamento da Parada LGBT de Duque de Caxias foi um desserviço da Prefeitura de Duque de Caxias à população caxiense e, de maneira geral, a todos os fluminenses que lutam por uma sociedade mais igualitária e justa. E o senhor, como líder deste ato cruel – que impediu que as milhares de pessoas ali reunidas caminhassem pacificamente em busca de seus direitos – passou a integrar a rede de cúmplices pela morte de milhares de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros que têm suas vidas ceifadas simplesmente pelo fato de serem quem são. Eu, como cidadão, caxiense, professor, cristão e integrante da população LGBT, tenho vergonha de ter no Executivo da minha cidade o senhor como prefeito. No que depender de mim, Zito, nunca mais pisarás na Prefeitura de Duque de Caxias ou em qualquer outro órgão que possa lhe render algum cargo político. A cidade que acaba de ser palco da I Jornada de Educação LGBT, comete essa gafe histórica e nada educada, cujo agente principal é o senhor. E o senhor, prefeito, acaba de ganhar um opositor e, esteja certo, um opositor que não caminha sozinho. Para ti, no pleno exercício da minha cidadania, ofereço o meu desprezo e o meu asco, em nome da minha consciência que me faz cidadão, que me faz livre, que me faz viver dignamente toda a vida que ainda não me foi retirada por gente como o senhor.

Léo Rossetti

Se você também repudia a atitude do prefeito de Duque de Caxias, assine esse manifesto e repasse a seus amigos por e-mail.

sábado, 15 de agosto de 2009

Eu, ateu

Poesia publicada em primeira-mão no Sai na Urina, "Eu, ateu" é uma reflexão sobre a busca do homem pelo divino. Trata-se de um questionamento - logicamente muito baseado na minha experiência pessoal - acerca da relação de troca e de barganha forjada entre a humanidade e o seu deus. A letra minúscula é intensional e, ao mesmo tempo, traduz a crítica que todo o poema faz a essa projeção que o homem ousou chamar de Senhor. Sem grandes pretensões, é, enfim, um protesto em forma de verso e urina contra o que nós fizemos dEle.

Eu, ateu
2009

O que espero deste que oferece
Se buscando ajuda, desespero?
Se buscando um amigo, austero?
Se buscando por calma, o berro?
Desse que, asteuro, oferece desespero e berro
Diz pra mim, o que espero? Qual o meu erro
Se não é esse deus que quero?

O que pensar deste que forma
Se buscando completude, vazio?
Se buscando graça, castigo?
Se buscando a mim, inimigo?
Desse que forma vazio, castigo e inimigo
Diz pra mim, o que pensar? Qual meu erro
Se não é esse deus que sigo?

O que tenho neste que professa
Se buscando perdão, sentença?
Se buscando a cura, doença?
Se buscando justiça, vingança?
Desse que professa sentença, doença e vingança
Diz pra mim, o que eu tenho? Qual meu erro
Se esse deus não me alcança?

O que vejo neste que se mostra
Se buscando o Pai, o padrasto?
Se buscando o Filho, o carrasco?
Se buscando o Espírito, o mágico?
Desse que se mostra mágico, carrasco e padrasto
Diz pra mim, o que eu vejo? Qual o meu erro
Se nesse deus encontro asco?

O que recebo deste que barganha
Se buscando verdade, vergonha?
Se buscando palavra, peçonha?
Se buscando a paz, insônia?
Desse que barganha insônia, peçonha e vergonha
Diz pra mim, o que recebo? Qual meu erro
Se a esse deus me contraponho?

Em que acredito neste que ganha
Se buscando respeito, a fama?
Se buscando ética, trama?
Se buscando caráter, lama?
Desse que trama lama e ganha fama
Diz pra mim, em que acredito? Qual meu erro
Se não é esse deus quem ama?

O que adorar neste que dá
Se buscando o alvo, a ira
Se buscando a justiça, a mentira
Se buscando socorro, atira
Neste que atira a ira e a mentira
Diz pra mim, o que adorar? Qual o meu erro
Se esse deus não me inspira?

O que anseio deste que quer
Se buscando o pão, dinheiro?
Se buscando abrigo, o cheio?
Se buscando o interior, o meio?
Deste que quer, no meio, estar cheio de dinheiro,
Diz pra mim, o que anseio? Qual meu erro
Se não é nesse deus que creio?

Leo Rossetti
15/08/2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Santa Maria Imaculada das Dores das Frustrações


O que faço nesta postagem não é nenhuma mensagem de cunho religioso, apesar do título. É apenas o fruto das necessidades fisiológicas que temos de colocar para fora tudo aquilo que incomoda, perturba, fere: quero desabafar! É o que neste blog chamamos de "Sair na Urina". E tem coisas que precisam sair na urina mesmo, porque se ficarem dentro do corpo acabam fazendo mal à alma.

O que eu quero tanto jogar na privada? Se pudesse, jogaria agora mesmo a minha colega de trabalho. Mas, não podendo fazer - sob o risco de entupir o recipiente - prefiro lançar ao esgoto aquilo que faz dela um ser ímpar: a sua vocação para mártir. Maria é minha amiga há anos, mas há meses vem amargando as dores de suas próprias frustrações com o casamento. O que eu tenho com isso, senão o sentimento de solidariedade de tentar ajudar? Nada. Mas ontem Maria resolveu aprontar comigo... sentindo-se incomodada, alegando estar sendo subjugada e inferiorizada, além de mal recompensada por não ter sido comunicada dos acordos de trabalho que lhe não diziam respeito nem interferiam no seu trabalho, resolveu travar uma discussão fútil - tal como a própria - sobre o fato de eu não reconhecer os meus erros. Ora, Maria, por que cargas d'água eu deveria te avisar que não trabalharia na segunda-feira e, ao invés disso, nosso colega o faria em meu lugar? Por acaso você é a líder do seu setor de trabalho? Por acaso eu trabalho no seu setor de trabalho? Por acaso você trabalharia junto comigo no horário em que eu deveria comparecer ao meu setor de trabalho? Não, Maria, você simplesmente iria embora. Mas por que se incomodar tanto, Santa Maria Imaculada das Dores das Frustrações, com os outros e com o que os outros fazem? Maria, você é uma mulher linda, para não dizer "gostosa", já percebeu? Quantas vezes você se desfez das pessoas, ao passo que elas estiveram sempre ali para te ajudar? Por acaso foi você que subiu ao calvário da Direção, foi? Não, não foi.

O que explica o incômodo de Maria? Eu tenho um palpite. Poderia arriscar e dizer que é o casamento falido, mas não é. Maria sempre foi assim, desde antes de seu casamento. Maria é carente, carente de pena, inclusive. Seu egoísmo necessita atrair pra si toda a sorte de atenção, motivo pelo qual se sente inferior, porém acaba atraindo um mar de frustrações, afinal nem toda hora as pessoas querem dar atenção a Maria. Ontem foi um desses dias. Simplesmente eu não estava com paciência para seus mimos e suas indiretas mal acabadas. Não sou uma de suas gatas e sustento que nem elas a suportam. Quer alfinetar? Procure uma costureira. Eu faço cá as minhas remendas nos meus paninhos, mas nenhum deles será pano quente para sua inferioridade que você, e só você, Maria, enxerga em si mesma.

No meio daquele diálogo ácido, quase me esqueço de que estou trabalhando em um órgão público. Não tinha motivos para replicar os desatinos de Maria, mas não sei por que motivo uma vontade louca me impelia a retrucar tudo, em absoluto, o que Maria cuspia matematicamente por sua boca. E mesmo assim, por mais que fosse mais são e adequado ignorar a sua ignorância, alguma coisa me impulsionava a contestar. Simplesmente uma palavra, talvez, uma frase que não saía como deveria. Quem sabe uma expressão, um conselho, um sopro que não conseguia proferir.

Por isso eu tentei, de todas as maneiras, traduzir todo esse agouro em outras palavras, mais suaves, mais elucidativas. Mas a vontade de mijar continuava e não consegui, até agora há pouco, descobrir o que tanto eu precisava dizer a Maria. Foi quando me veio a idéia de blogar no lugar mais apropriado, meu diário eletrônico, o Sai na Urina. Foi ele o meu refúgio, através do qual eu pude encontrar as melhores e mais adequadas palavras para dizer a Maria, que tanto estavam guardadas. Por isso, Maria, antes que eu me esqueça, com todo o respeito: Vai pra puta que te pariu!

Tangerinas Parte II - imagens do espetáculo

É com muita alegria - e atraso - que venho compartilhar com meus amigos internautas uma pequena parte do espetáculo "Tangerinas" que foi divulgado neste mesmo blog e apresentado no SESC Engenho de Dentro no dia 25/07, no qual atuei junto com mais seis amigos da Oficina Escola Nossa Senhora do Teatro Fernanda Montenegro. "Tangerinas" é, para mim, a marca do meu retorno aos palcos, e um presente que ele próprio, o Teatro, me deu. Espero que tenha sido com o intuito de fazer com que eu prove o seu sabor ácido e me delicie por entre seus gomos e caroços. De antemão, aos que não puderam assistir, aguardem... talvez uma boa notícia para vocês possa surgir. Então, com vocês, TANGERINAS!



segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tangerinas

Convido a todos e todas para a 3ª Mostra de Teatro Minimalista no SESC Engenho de Dentro - Rio de Janeiro.

A mostra acontecerá nos dias 24 e 25 de julho e custará apenas R$ 10,00 para cada dia de evento, e consistirá na apresentação de diversas esquetes dos alunos da Oficina Escola Nossa Senhora do Teatro Fernanda Montenegro, sob direção de Ricado Andrade Vassílievitch.

Eu me apresentarei às 19h45 do sábado, dia 25/07, com a esquete TANGERINAS, e terei a honra de contar com sua presença na platéia. Quem se interessar, os convites podem ser adquiridos comigo, pessoalmente, ou diretamente no SESC Engenho de Dentro COM ANTECEDÊNCIA. São poucos lugares! Segue abaixo um dos cartazes de divulgação de nossa esquete!

Merda!