sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sem Pecado entre o Leblon e o Vidigal

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Ele fica na expectativa da data esperada. À tarde, sai mais cedo do trabalho e planeja comprar o presente que possa agradar a quem lhe quer bem. Sai às ruas e às compras e em meio à indecisão que é só sua, escolhe o agrado para felicitar sua caríssima-metade.

Vai pra casa, e como sempre se distrai em meio à liberdade que sua casa lhe confere. Brinca com o cão, que é seu filho, descansa e dorme. Quando acorda, faz uma leve refeição e se prepara para sair. No banheiro, antes do banho, faz os preparativos do limite da barba e de todas as demais regiões que apenas os mais instruídos sabem identificar a respectiva necessidade. Se banha e perfuma. Extrai os pelos que sobrepujam em seu corpo, porque assim bem lhe agrada.

Apressado, atrasado, sai de casa e abastece o carro e esquece o vinho. Na estrada, sente o estresse do trânsito e do tempo que em cada minuto se torna mais curto. O celular toca e ele atende. Justifica. Depois de quinze minutos, o celular é tocado, mas no outro extremo da linha. Explica. Segue. Desorienta-se depois do Rebouças.

Na marca de outros quinze minutos de tolerância ele chega. Telefona e espera. Abre a porta do carro e recebe uma mochila e uma sacola laranja. Neste momento, percebe que deveria ter levado o presente que comprara à tarde, mas este teria ainda que esperar dois dias para receber seu devido destino.

Dali partem para um restaurante. Conversam, conversam, conversam. Erram o caminho. Vão e voltam, dão um giro pela cidade e se reencontram no caminho de volta e chegam. No carro, ele recebe de presente a sacola e descobre que o presente era o resultado de um desejo manifesto em um desses passeios a Petrópolis em algum feriado religioso. Ali se beijam.

No restaurante, numa famosa rua das Laranjeiras, gozam das delícias da culinária japonesa, com um certo medo de parecerem alheios ao lugar. Percebem que o cupom do desconto era quase desnecessário, e arcam com a despesa sem o abatimento de dois reais da promoção do estabelecimento.

Fartos e satisfeitos, rumam à Avenida Niemeyer, e descobrem que o Vidigal é parte do Leblon e vice-versa. E que, embora separados pela denominação de bairros diferentes que possuem, são dois lados extremamente opostos da mesma moeda. E assim, depois de racionalizarem as diferenças sociais de um lugar e de outro, entram onde não existe pecado.

Lá, banham-se, escaldados por jatos de água quente que apimentam aquilo que o perfume da sacola laranja já prenunciara. O chuveiro quente logo se conflita com a cerveja gelada com a qual decidem brindar a data que para ambos é tão significativa.

Ao chegarem ao altar do desejo, deliciam-se com os filmes que não cabem em seu universo, senão para se rirem das cenas que para eles são tão obtusas. A hora avança e eles percebem que não há mais nada o que perceber, e decidem não mais adiar o que ambos os corpos desejavam. E se amam compulsivamente.

A madrugada cai sobre seus olhos e eles não percebem o dia que invade aquele lugar sem pecado com cheiro de chuva. O frio pede o calor do vapor d'água e então ambos resolvem desfrutar e relaxar na quente saleta apropriada para tal. E então um maldito telefone toca pra dizer que o tempo acabou.

Dali partem para o mirante e fotografam a paisagem como registro do dia que marcou para ambos os dois anos de sua história.

E a vida seguiu ao longo do dia, como se a manhã do Vidigal ou do Leblon não tivesse acontecido, como se aquele dia - sendo o mais atípico dos dias - brincasse de ser fantasia e eternizasse a noite anterior nas lembranças dos arquivos secretos guardados na memória e no coração.

4 comentários:

  1. ADOREI! rs

    Incrível o texto, de uma sensibilidade imensa.
    Que dois anos se multipliquem.

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  2. Êta, vidinha agitada!!! ;)

    Abração, menino.
    Sergio Viula
    www.glsgls.blogspot.com
    http://www.formspring.me/ForadoArmario

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