quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ABGLT envia nota de repúdio contra Marcelo Dourado


A ABGLT (Associa
ção Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) enviou nesta segunda-feira (22/02) uma nota de repúdio sobre o comportamento de Marcelo Dourado no Big Brother Brasil 10.

Em nota, assinada pelo presidente da Associação Toni Reis, é citada as atitudes homofobicas de Dourado em relação aos participantes homossexuais do reality, e suas declarações equivocadas de que "homem hetero não pega Aids".

O comunicado descreve ainda a atitude de Dourado, que depois do desentendimento com Angélica, chamou a participante de "abusada" e que se ela fosse homem ele a "encheria ela de porrada".

Para Toni Reis, "as atitudes e declarações de Marcelo Dourado, em um programa de televisão com grande audiência nacional, apenas servem para reforçar toda esta carga de preconceito, discriminação e estigmatização contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT)", demonstrando assim "a impunidade com que esta forma de discriminação se aplica na sociedade brasileira, ao contrário do racismo e outras formas notórias de discriminação passíveis de punição prevista em lei.




Abaixo confira a carta na íntegra.



A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) é uma entidade de abrangência nacional que congrega 237 organizações congêneres e tem como objetivo a defesa e promoção da cidadania desses segmentos da população. A ABGLT também é atuante internacionalmente e tem status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.

Neste sentido a ABGLT vem a público manifestar o seu repúdio às declarações e ações homofóbicas e machistas de Marcelo Dourado, participante do programa Big Brother Brasil 10, veiculado pela Rede Globo.

Entre outras manifestações, como o uso do símbolo nazista no braço, podemos citar suas atitudes homofóbicas em relação aos participantes homossexuais do programa, incluindo a disseminação da noção equivocada de que ?homem hétero não pega aids?, e a ameaça de espancar uma mulher lésbica participante do programa, conforme pode-se verificar nos vídeos disponíveis.

Os dados epidemiológicos do Ministério da Saúde demonstram claramente que uma das tendências atuais da epidemia da aids é justamente a feminização, ou seja, há um aumento nos casos de aids na categoria de transmissão heterossexual (homem/mulher) enquanto o número de casos de aids na categoria homo e bissexual está estável há vários anos. Tal aumento na população heterossexual se deve em grande parte a crença estigmatizante de que a aids é uma doença apenas de gays, e que tristemente foi reproduzido pelo Sr. Dourado em cadeia nacional de televisão.

Estudos publicados nos últimos cinco anos vêm demonstrando e confirmando cada vez mais o quão a homo-lesbo-transfobia (medo ou ódio irracionalmente às pessoas LGBT) permeia a sociedade brasileira e assimilada pela juventude.

A pesquisa intitulada ?Juventudes e Sexualidade?, realizada pela Unesco no ano 2000 e publicada em 2004, foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Na pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.

O estudo "Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas", publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, traz uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores do Distrito Federal, e aponta que 63,1% dos entrevistados em uma escola alegam já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos professores também afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmam que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula.

A pesquisa ?Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar? realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, é uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revela que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à orientação sexual.

A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa ?Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais?, que demonstra que 92% da população reconhece que existe preconceito contra LGBT e que 28% reconhece e declara o próprio preconceito contra LGBT, percentual este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela Fundação.

As atitudes e declarações de Marcelo Dourado, em um programa de televisão com grande audiência nacional, apenas servem para reforçar toda esta carga de preconceito, discriminação e estigmatização contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), e demonstram a impunidade com que esta forma de discriminação se aplica na sociedade brasileira, ao contrário do racismo e outras formas notórias de discriminação passíveis de punição prevista em lei.

É preciso envidar esforços, a exemplo da iniciativa do governo federal, através do Plano Nacional de Promoção dos Direitos Humanos e Cidadania LGBT, para que se diminuem o preconceito e a discriminação contra pessoas LGBT, e que se promova o respeito às diferenças, quaisquer que sejam, existentes entre as pessoas que compõem nossa sociedade. Os meios de comunicação têm um papel chave nesta empreitada.

Toni Reis - Presidente da ABGLT - Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

Fonte: http://acapa.virgula.uol.com.br/site/noticia.asp?codigo=10317&BBB+10%3A+ABGLT+envia+nota+de+rep%FAdio+contra+Marcelo+Dourado

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Da descoberta do TOC

Feliz Ano Novo!!! Sem mais explicações: a primeira postagem deste ano é de fevereiro mesmo! Sim, decidi deixar o mês de janeiro por conta das férias, em todos os âmbitos, inclusive neste blog. Estou inaugurando o 2010 do Sai na Urina não com uma poesia, como fiz em 2009. Mas o tema é curioso, e faz parte de mim.

Vocês já devem conhecer algo denominado “Transtorno Obsessivo Compulsivo”, o chamado TOC. Eu não conhecia até que alguém me informou que eu parecia ser portador deste transtorno. O TOC consiste em uma mania de simetria, de exatidão. É a obsessão compulsiva pela certificação. Depois disso comecei a perceber o quanto o TOC faz parte de mim. É tanto, que seria impossível finalizar a explanação desta importante parte de mim apenas nesta postagem. Daí me veio a ideia de uma série de publicações com o mesmo tema. Esta é, portanto, a primeira delas. Mas vamos ao que interessa. Querem saber como descobri o TOC?

Foi trabalhando! Talvez seja porque sou virginiano, vai saber. O fato é que minha mania de perfeição por vezes fazia prolongar demasiadamente o tempo para concluir minhas atividades no trabalho. Horas pra montar um cartaz simples, simplesmente por causa de uma letrinha que não estava centralizada. Ao desenhar, não poderia restar uma sombra de grafite no papel. E se restasse uma nuvenzinha negra no canto esquerdo, outra similar deveria fazer a contraposição no lado direito. Nos murais que confeccionava, tinha discussões homéricas com a Maria Luiza. Sim, porque ela é avessa ao enquadramento. Tudo pra ela tem que estar como folhas que caem desordenadamente do céu após uma ventania. Pra mim, até na desordem há de haver ordem: se um cartaz está virado 30º à esquerda, necessariamente um outro cartaz com o mesmo ângulo, à direita, faria a composição do mural.

É uma questão de simetria. Talvez seja difícil para vocês entenderem essa mania. Mas eu explico. Lembram da infância quando nos falavam que se deixássemos o chinelo virado de cabeça pra baixo nossa mãe morreria? Pois bem, imaginem a sensação de ver o chinelo virado, mas não poder desvirá-lo! Assim é o TOC. Às vezes, ao me levantar e virar pra esquerda, por exemplo, tenho a sensação de ter virado demais, sendo necessário desfazer o giro em direção ao sentido oposto. É como se minha memória tivesse registrado, ao sentar, a necessidade de percorrer o mesmo caminho, com o meu corpo, ao me levantar. Tal como um pedaço de pano que, preso ao teto em um das pontas, e se retorcido para a direita, automaticamente tem sua posição normalizada pelas propriedades da natureza. É simples.

Quer me ver passar mal? Experimente me dar um tapinha no ombro! Eu na certa precisarei ser tocado no outro ombro, com a mesma intensidade do primeiro toque. Se for necessário, eu mesmo me toco. E se, porventura, meu próprio toque extrapolar a intensidade do primeiro, meu corpo reage dizendo: Léo, dê mais um pequeno toque no outro ombro pra compensar sua mão de cavalo! Eu mesmo vejo nada de absurdo nisto! Pensem e vejam se não é lógico: estou andando numa calçada e dou uma topada numa pedra. A dor não é insuportável? A diferença é que pra mim ela é insuportável por latejar num pé só, e não pela intensidade de pancada. Por isso faço questão de pressionar o outro pé até obter sensação similar, se não de dor, ao menos de latejo.

Certa vez tive um grande problema com uma mochila. Quando eu a colocava, um de seus lados tocava de maneira mais pontiaguda as minhas costas. Mas apenas um dos lados das minhas costas. Isto era muito irritante. Não à toa eu andava a partir daí feito um robô manco, tentando consertar a alça da mochila pelas ruas, enquanto ela me sacaneava pelas costas. Troquei a maldita. Passei a usar uma bolsa. Pelo menos esta eu ponho do lado que eu quiser e alterno de acordo com a intensidade que repousar sobre cada um dos lados que a sustentar. Já me disseram que eu preciso de ajuda. Eu acho que não é pra tanto. Ou é? Será!?