sábado, 14 de novembro de 2009

Entre o Muito e o Pouco, o Sai na Urina completa seu primeiro ano!

Em 14 de novembro de 2008 pari, no seio do ócio criativo de um dia demasiadamente chato, o veículo virtual de expiação do estresse diário nosso de cada dia. Era o Sai na Urina, que nasceu fruto da necessidade de passar por cima de tudo aquilo que sufocava o corpo através da opressão da alma.

Nesse primeiro ano, o Sai na Urina assistiu – junto com todos nós – a diversos episódios do cenário úrico brasileiro e mundial: há um ano Michael Jackson prometia fazer um retorno inesquecível em Londres com um mega espetáculo que, ao fim e a cabo, não aconteceu porque ele morreu em meados de 2009. Simples assim! Em menos de um ano as escolas e outras instituições de educação do país se organizaram em prol das Conferências Municipais e Estaduais de Educação, prelúdio à CONAE 2010, que acontecerá ano que vem. Nesse ínterim, assistimos à queda de helicóptero no Rio de Janeiro e à proibição da Parada LGBT de Duque de Caxias, pelo prefeito Zito. A homofobia, por assim dizer, foi combatida em ato público celebrado aos pés do Cristo Redentor, o qual, de braços abertos, abençoava a escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016 e, paralelamente, como melhor destino gay internacional. Em um ano as Escolas de Samba ganharam seus títulos e seu dinheiro para desconstruírem seus enredos e reconstruírem seus carros alegóricos e adereços para o novo carnaval que ainda está por vir. Lévi-Strauss morreu, mais velho que Michael Jackson, e também com mais de 100 anos quase também foi embora o arquiteto Oscar Niemeyer. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, neste primeiro ano de seu mandato decidiu pôr em prática o Choque de Ordem, através do qual a cidade passou a ficar mais bonita e limpa; contudo, mais cruel e injusta com aqueles que não têm de onde tirar o seu sustento, senão das ruas. Há menos de um ano, as escolas públicas e muitas da rede privada fecharam suas portas devido à epidemia da Gripe A H1N1 – a ex-Gripe Suína – que fez do porco o animal mais falado no inverno de 2009. Em um ano assistimos a pelo menos dois acidentes drásticos com aviões, envolvendo o nosso país: o primeiro deles foi o mais desastroso, com uma busca insistente por semanas e o resultado dela: cem por cento de óbito; a aeronave da AirFrance caiu no Oceano Atlântico matando a tripulação e os passageiros. O outro caso foi com o avião da FAB, recentemente, que foi obrigado a fazer uma aterrissagem de emergência em um rio da Amazônia; salvou-se a maioria dos que a bordo estavam. Obama também ajudou a salvar a reputação dos Estados Unidos, surpreendendo a nação do Tio Sam com uma guinada histórica em 2009, na contramão do percurso soberbo daquele país ao longo dos séculos de sua existência. Mas não foi necessário esperar um ano para que o presidente negro dos Estados Unidos tivesse sinais de reprovação nos municípios americanos, a despeito de sua pop-pluralidade a nível internacional.




Quanta coisa aconteceu nesse primeiro aniversário! A maioria sequer chegou a ser publicada no blog. Isso me fez refletir sobre a nossa falta de tempo que assola a humanidade na Era da Informação. Ao passo que as notícias se aceleram, também acelera o nosso metabolismo, no sentido de tentar da conta do mundo que passa rápida e avassaladoramente pela gente, destruindo nossos sonhos e consumindo a nossa energia. Em um ano muita coisa acontece, mas esse Muito acaba ofuscando o Pouco, isto é, o tempo que nos falta para ir ao cabeleireiro ou para namorar; o tempo para estudar com mais afinco ou para refletir sobre as mazelas do mundo; o tempo de estar mais tempo com a família, com os amigos ou com o próprio Tempo; o tempo de orar, rezar, meditar; o tempo de planejar, pensar, sonhar; o tempo de pensar a própria História – o Presente – que existe sozinho nessa imensidão que é a Eternidade. Sim, o Presente é uma dádiva solitária. Ele é como a lua que, boiando no céu, ora se destaca iluminada, ora se esconde na escuridão, mas entre idas e vindas permanece firme no firmamento, apesar do dia que a sufoca. Nosso dia também sufoca o nosso Presente; trabalho, negócios, compromissos, agenda lotada, trânsito, conservadorismo, engarrafamento de ideias... onde está o nosso Presente? O Futuro não existe e o Passado já se foi. Só o que existe é o Hoje, mas ele está comprometido com as notícias, as informações, com o acelerar da vida, com os compromissos inadiáveis, com a religião, com a rotina... com o Dia! Com o dia-a-dia. Assim como a lua só é percebida quando está iluminada, espreitada pela escuridão, assim nosso Presente só faz sentido quando nele depositamos nossos sonhos, nossos projetos, nossas ações de Vida!


Por este ponto de vista, o primeiro ano do Sai na Urina representa o Pouco. Passou rápido demais, foi-se. Não deu tempo de viver tudo aquilo que me faz feliz! Ainda tem muita urina nessa bexiga, muito mijo pra jorrar, muito estresse pra expiar. Eu prefiro apostar no Pouco que no Muito, porque o primeiro me permite a Incompletude, a qual é não menos que o combustível para se buscar a virtude que certamente não chegará: a Perfeição. Mas não estou falando da Perfeição mesquinha e hipócrita dessa sociedade suja e mal-caráter. Estou falando de algo além, do transcendente, do espiritual, do sentir, do ser... falo da Perfeição que nos inspira, nos motiva, que nos coloca no nosso lugar de imperfeitos e nos ensina a buscá-la, construindo o Bem ao longo do nosso Presente (com tentativas inglórias ou bem sucedidas), ao longo de cada uma das fases de nossa Lua, ao longo da Vida; porque é no caminho que se faz o caminho, que – assim como a Lua e o Presente – só existirá enquanto houver quem o faça existir.


Um comentário:

  1. Existem dois tipos de 'neuróticos': os que congelam suas vidas, vivendo no passado, e os que adiam suas vidas, planejando e esperando o futuro. Ambos são tolos, pois nem passado nem futuro existem, portanto trocam suas vidas por uma ilusão.
    E quando falo 'vida', não me refiro à manutenção dos processos fisiológicos, pois isso todos (que estamos vivos) fazemos mais ou menos bem.
    Quando falo 'Vida' faço-o com V maiúsculo, pois me refiro a realização de nossos desejos, a expressão de nossa individualidade, falo em viver plenamente.
    É dificil deixar para lá os ressentimentos e/ou arrependimentos do passado e as preocupações do futuro... Mas, se pararmos para pensar, do que eles nos valem?
    O passado não podemos mudar.
    O futuro não temos certeza se virá.
    Só o que temos é um ínfimo átimo de tempo, tão pequeno que nem é suficiente para falarmos seu nome: pre-sen-te.
    E por falar em presente, parabéns pelo aniversário do Sai.na.urina
    Desejo que ele continue por mais muito tempo nos brindando com textos cheios de emoção e verbosidade.
    Um abraço.

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